“Um recado do Marechal para um ex-capitão.” Uma carta de Deodoro para Bolsonaro sobre o Trabalho Infantil.

11/09/2020 07:00 - Trabalho do Carvalho
Por redação
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Bolsonaro,

Sou Marechal Deodoro da Fonseca, alagoano e primeiro presidente da República. Fico aqui de onde estou, quietinho no meu canto, cuidando das minhas coisas, mas depois dessa última live sua, uma dessas modernidades que não existiam no meu tempo, senti-me compelido a me manifestar.

Além de seu superior hierárquico no glorioso exército brasileiro, antecedi você e mais 36 presidentes, o que me dá todo o direito de chamar sua atenção e colocar as coisas em ordem (e progresso).

Gostaria de acreditar que não possuo nenhuma semelhança com a sua pessoa, mas tenho que reconhecer que existem sim alguns pontos de convergência. O primeiro é que somos militares, eu Marechal ao fim de minha carreira e você um ex-capitão que pediu para sair. O segundo é que rompemos com a continuidade dos governos: eu depus um Imperador com armas, você ganhou uma eleição com o WhatsApp e “kit gay”. Terceiro, contrapusemos a estrutura anterior, mesmo ambos tendo participado e sido beneficiados por ela, eu como amigo de Dom Pedro II e você como congressista por décadas. Quarto, ambos tivemos o apoio dos “liberais”, eu por Ruy Barbosa, Quintino Bocaiuva, Silva Jardim, Lopes Trovão, José do Patrocínio e você, bem, pelo Paulo Guedes.

Mesmo nas semelhanças somos diametralmente diferentes: é impossível, por exemplo, comparar um Ruy Barbosa, meu Ministro da Fazenda, com esse tal de Paulo Guedes... Fala sério.

Mas o motivo dessa carta é deixar bem claro que sou completamente contrário a essas besteiras que você andou dizendo na sua live do dia 09/09/2020, quando, com uma “youtuber” mirim, você fez piada debochando dos gordos, das mulheres e defendendo o trabalho infantil.

Não me envergonhe! Não envergonhe o exército brasileiro! Não envergonhe o pensamento liberal! Diferentemente de você, eu sou e sempre fui contra o trabalho infantil. A primeira lei de combate ao trabalho infantil no Brasil é minha: DECRETO Nº 1.313, DE 17 DE JANEIRO DE 1891. Pesquise aí na internet.

Eu e todos os liberais que apoiavam o meu governo éramos radicalmente contrários ao trabalho infantil porque aspirávamos as melhores práticas e inovações dos maiores países capitalistas daquela época. Essa baboseira de “deixar criança trabalhar” é sua. Não admito que alguém em sã consciência me relacione com pensamento tão atrasado, que no século retrasado já tentávamos combater.

Poderia escrever outros argumentos, mas um outro colega meu, o valoroso Marechal Rondon, está na fila.

Tome juízo.

Marechal Manuel Deodoro da Fonseca

#eucombatootrabalhoinfantil

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