Afinal, o que é o fascismo?

19/06/2020 19:38 - Blog da Claudia Petuba
Por Redação
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"Fascismo" é uma das palavras mais citadas do momento, sites de busca informam que pesquisas sobre seu significado cresceram muito nas últimas semanas, isso devido às semelhanças entre posturas e falas recentes do Presidente Bolsonaro com essas ideias, mas afinal, o que é o fascismo?

A palavra fascismo deriva de fasces, uma palavra do latim que significa um machado amarrado num conjunto de varas que era carregada pelos guarda-costas dos juízes, para castigar pessoas na Roma antiga. Um símbolo de poder, que foi escolhido por Mussolini, na Itália, como símbolo do Partido Nacional Fascista, criado em 1921 – antes de fundar o Partido, ele criou uma organização em 1919.

Mussolini foi o criador dessa ideia que, diferente do que muitos pensam, não se tratava apenas de violência física contra seus opositores e repressão às liberdades do povo, possuía conteúdo completo, elaborado por intelectuais que formulavam propostas concretas para política, economia e cultura, que promoviam mitos e símbolos como uma religião.

O fascismo é uma doutrina política que se diz “anti-ideologia”, mas também é uma ideologia! Posicionava-se contra o capitalismo e o comunismo, alguns o caracterizam como de direita, como Alfredo Rocco; outros de esquerda, como Giuseppe Bottai, em virtude do fascismo ter promovido leis que protegiam os trabalhadores. A maioria classifica como de extrema-direita, o fascismo é uma junção de características de várias outras ideologias como o salazarismo de Portugal e o franquismo da Espanha (regimes autoritários da época), que muda conforme os interesses pessoais do seu líder.

O líder fascista geralmente chega ao poder durante uma crise, com os argumentos de combater a corrupção, resolver a crise econômica e resgatar valores tradicionais em declínio, quando as elites tradicionais e econômica temem uma revolta popular e sentem a necessidade de alguém anti-político, que não seja da política tradicional para resolver esses problemas.

Suas principais características são: defesa extrema da nação, populismo com viés romântico, ideia de expandir território e autoritarismo que despreza a democracia popular e parlamentar. O fascismo mobiliza a sociedade para um conflito armado, reprime e persegue com violência quem faz oposição, despreza seus inimigos e os considera de uma raça inferior. Onde um ditador comanda um Estado totalitário, que promete “política radical para salvar o país da decadência” (Roger Griffin), “que espalha terror para conquistar o poder” (Emilio Gentile). O fascismo é um movimento organizado como uma milícia partidária, que cria e estimula milícias privadas.

Os partidos e políticos que se inspiram nessa ideologia na atualidade são chamados de neofascistas, no Brasil cresce a associação de Bolsonaro ao fascismo, existe uma nítida simpatia do Presidente por algumas características fascistas, mas classifica-lo fascista é ofender o próprio fascismo e rebaixá-lo, pois se trata de uma ideia elaborada com conteúdo robusto, enquanto no Brasil temos uma aventura vazia de conteúdo, com objetivo de vender o patrimônio público e favorecer familiares e amigos do Presidente.

Como bem escreveu André Araújo recentemente, que listou alguns traços do fascismo italiano: fortalecimento do Estado, era administrativamente eficiente, fortaleceu serviços públicos como o sistema férreo e o bancário e fez grandes obras públicas; defendia os trabalhadores, criou o Código com direitos para proteger os trabalhadores (que inspirou vários países, inclusive o Brasil que criou a CLT), tinha interessa na cultura, recuperou o patrimônio cultural e promoveu a produção cultura com iniciativas como a criação do complexo de teatros e estúdios Cinecittà; promoveu aliança com a Igreja Católica, criou o Estado do Vaticano; combatia o crime organizado. Características que não estão presentes, pelo contrário, o que ocorre no Brasil está bem longe disso.

A sequência de características do parágrafo anterior dar a entender que seria algo maravilhoso o fascismo, se não possuísse também outras características negativas, em maior quantidade e determinantes: um regime violento, que promoveu o terror e a tortura, perseguiu e matou opositores; acabou com a liberdade das pessoas, aboliu a liberdade de expressão, de associação, dentre outras... o fim de Mussolini foi ao seu estilo, violento e cruel: assassinado por um grupo antifascista, seu corpo metralhado foi penduro pelos pés, em praça pública, e ficou exposto por dias ao lado do corpo de sua amante e outros fascistas.   

O nazismo alemão, embora tenha se inspirado no fascismo italiano, trata-se de outro assunto que trataremos em postagem específica. Abaixo algumas sugestões de textos caso queira saber mais sobre o fascismo:

Como os fascistas chegam ao poder

O governo não é fascista

A ameaça fascista no Brasil

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