Reunião ministerial de Bolsonaro: excesso judicial, fuxico presidencial e práticas ilegais

23/05/2020 22:34 - Blog da Claudia Petuba
Por Redação
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A divulgação da reunião ministerial do Governo Bolsonaro, que foi “apresentada” pelo ex-ministro Sérgio Moro, como prova da interferência política do Presidente na Polícia Federal-PF, é um excesso! Informações como esta devem ficar restritas aos autos processuais, já escrevi em outras oportunidades sobre a transformação de processos judiciais em espetáculos midiáticos. Não posso concordar com a exposição do que se mostrou uma horrenda reunião só porque me somo aos que fazem oposição ao Governo Bolsonaro - deixar registrado para que depois se eu vier a ser contra esse tipo de exposição de um Governo que conte com meu apoio, que não desqualifiquem minha opinião em virtude do apoio.

Posso não concordar com o conteúdo da reunião, mas o Presidente da República, bem como qualquer Governador ou Prefeito, tem a liberdade de reunir sua equipe e compreendendo que estão num momento interno e reservado, fiquem "à vontade" para expor suas opiniões. Por mais que no acirramento das disputadas políticas se pretenda o desgaste do adversário, a Instituição por ele liderada deve ser preservada. Mas, já que foi divulgada, não posso deixar de comentar:

1. Se alguém ainda tinha a ilusão de que o Governo Bolsonaro era um governo 100% técnico, como muitos dos seus defensores argumentavam, só segue com essa opinião se quiser continuar sendo enganado, não deixa de ser um direito seu. Bolsonaro disse que se eleito iria fazer um Governo sem ideologia e militância, mas o próprio Ministro da Educação comprova que ele e vários outros estão no cargo para militar e não para atuar profissionalmente. Não existe Governo que não seja orientado por alguma ideologia, o problema não estar em ter ideologia, mas de não assumir seu caráter ideológico e enganar as pessoas.

2. A reunião convocada pela autoridade maior do país e sua equipe é cheia de fuxico, no meio de uma crise humanitária que afeta todo o mundo, com graves desdobramentos no Brasil, quase nada sobre a pandemia e ações do Governo Federal para enfrentá-la. Além do ex-ministro da Saúde, Teich, que fez breves considerações em alguns segundos, nada foi tratado sobre formas de combater o novo coronavírus. Reunião de baixo nível, não pelos palavrões, mas por mais se preocupar em esculhambar instituições e pessoas que falar de como superar a crise atual e minimizar o sofrimento do povo.  

3. Governo com relações internas desgastadas, elevado nível de ciúmes e disputas, cada um mais preocupado com seu umbigo, tratar "seu" ministério como uma ilha, que tocar a pasta sob sua responsabilidade a integrando a algo maior e não fugir da responsabilidade de ajudar a resolver os problemas do país. Parte dos nomes escolhidos para a equipe comprovaram que são especializados em criar conflitos externos e internos.

4. Que a gestão Bolsonaro é cheia de privilégios para os seus amigos, familiares e mais ricos. Defender seus filhos faz parte das atribuições do Bolsonaro Pai, mas não cabe ao Bolsonaro Presidente colocar alguém acima da Lei, quando a Presidência da República deve ser exemplo de cumprimento das leis e, principalmente, da Constituição. Privilégios para as relações pessoais e institucionais, quando se escolhe apoiar apenas as grandes companhias e coloca os pequenos negócios como um problema, algo que “dá prejuízo”, quando são os principais responsáveis por gerar empregos no Brasil. Os grandes negócios precisam ser estimulados, mas principalmente os pequenos negócios necessitam de mais oportunidades.

5. O Ministro da Educação mostra que é exemplo em deseducar as pessoas e não em educar, deveria saber que quando falamos de educação não devemos nos limitar à educação formal, que o maior legado da formação educacional não é um diploma, mas a evolução de uma pessoa enquanto profissional, cidadão e ser humano. A cultura do ódio e do desrespeito não deveria ser difundida, mas combatida, não faz parte da tradição do povo brasileiro que é ser pacífico e ordeiro.

6. O vídeo, antes de ser divulgado, deveria ter sido editado de forma que várias partes sobre relações internacionais deveriam ter sido cortadas. Essa exposição fragiliza ainda mais o Brasil perante outros países, o penalizado não será apenas a pessoa de Bolsonaro ou sua gestão, mas a economia brasileira que já não vai bem e as relações comerciais com a China, principal destino das exportações e importações brasileiras. O que determina o comércio internacional não são os negócios, mas a geopolítica, a boa diplomacia entre os países é determinante.

Juridicamente, pode ser que o vídeo não seja suficiente para comprovar a interferência na PF por motivos políticos, mas mostrou a prática de várias outras ilegalidades como crimes contra a honra, afrouxar regras de proteção ambiental sem o devido processo legal e abuso de poder com o tal “sistema particular” para obter informações que não deveria ter acesso, vazadas por policiais amigos.

As pessoas andam tão chateadas com a política que assistir um show de horrores como este desanima ainda mais. Se eu não tivesse integrado o Governo Renan Filho e por 5 anos ter presenciado reuniões de alto nível técnico e político, também me somaria aos desanimados com a política. Tido a oportunidade de testemunhar que esta esdrúxula reunião presidencial não é regra, mas uma trágica exceção, sigamos firmes na crença da capacidade da boa política de promover melhorias para população.

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