O “pacto” de Bolsonaro é uma piada

30/05/2019 13:33 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

Quando um governo não sabe o que fazer, inventa a proposta de um “pacto entre todos os setores da sociedade”. Somente assim, dizem os defensores da ideia, pode-se encontrar saídas para a crise terrível “que não poupa ninguém”. No Brasil, essa é uma fixação desde que os milicos foram para casa, há mais de três décadas. No período da chamada redemocratização, ainda antes da eleição indireta de Tancredo Neves, a imprensa já falava da urgência de se trabalhar pelo “pacto social”.

A pauta voltou durante o governo Sarney, naquele período em que a vida do povão entrou por um buraco que parecia não ter fim. Era o tempo da inflação descontrolada, quando o sujeito precisava de um caminhão de dinheiro para comprar meio quilo de arroz ou uma bola Canarinho. Do alto dos bigodes maranhenses, Sarney aparecia na TV conclamando os “brasileiros e brasileiras” a se engajarem na união de todos em defesa do Brasil. O tom, nessas ocasiões, é sempre melodramático.

Com nuances e estilos particulares, o mesmo discurso atravessa as gerações e as décadas. Fernando Collor, Fernando Henrique Cardoso e até Dilma Rousseff tiveram seus momentos de aceno ao pacto entre as “forças ativas da sociedade civil”. Em todas essas ocasiões, quando provocados a falar sobre a ideia, os mentores citavam o incontornável Pacto de Moncloa. Este sim é visto como crucial na redemocratização da Espanha, no fim dos anos 1970, com o enterro da ditadura franquista.

O Pacto de Moncloa foi assinado em outubro 1977 entre partidos políticos, sindicatos e empresários, juntando governo e oposição, esquerda e direita, azul e vermelho, o touro e o toureiro. Deu certo. É um marco da engenharia política, estudado até hoje mundo afora como exemplo de rara costura entre setores historicamente inconciliáveis. Por isso, desde então virou modelo para outros países, singrou os continentes, em diferentes épocas, com atores distintos. Nem sempre dá certo, é claro.

E aí está o Brasil para provar que nem todo modelo, por mais extraordinário que pareça, serve pra todo mundo. Nos governos anteriores que citei, a ideia veio e se foi com a ligeireza semelhante à dos piores bandoleiros que prometem a regeneração. Não adianta somente a verborragia de supostos líderes à frente dos governos de plantão. É preciso engajamento, com transparência e metas claras.

Corta para o planeta Bolsonaro. O “pacto” anunciado agora, entre os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário é uma piada completa. O que está fazendo nessa palhaçada o presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli? A Justiça não pode estar pactuada com governo nenhum – é a negação de sua essência, ora essa! Os tribunais vão amansar em causas de interesse governista?

Pacto é o baralho! O inculto e truculento presidente não pactua com ninguém, a não ser com sua seita de dementes ou com algum miliciano carioca amigo de sua família. O pacto que interessa a Bolsonaro não serve ao país. A Associação de Juízes Federais soltou nota expondo a insanidade que é o Judiciário nesse circo. O governo é um fiasco em tempo integral. Bolsonaristas que se entendam.

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