Os portões do Santuário da Santa Cruz, no Morro da Massaranduba, foram abertos na noite da Sexta-feira Santa (20) para receber o espetáculo da Paixão de Cristo, em Arapiraca. O Acesso calçado, porém, muito íngreme, já deixava claro ao público que mais do que um espetáculo a noite reservava uma experiência de fé e doação.

 

Para os espectadores, este ato do “doar” se deu de forma voluntária ao levar um quilo de alimento não perecível como ingresso.  Já para os atores, coordenação e direção o processo de doação se deu a partir  da concepção da proposta de retomar a apresentação do espetáculo no morro. A união de artistas (Craíbas, Arapiraca e Palmeira dos Índios) que já atuaram na Cidade de Maria, na Baixa Grande e Morro Santo da Massaranduba, sob a coordenação do ator Marcos Cordeiro e direção de Jario Barros, com apoio da Diocese de Penedo, tornou possível a volta do espetáculo que é, desde 2011, reconhecido como Patrimônio Imaterial do Estado de Alagoas e há quatro anos não era realizado na capital metropolitana do agreste.

 

 

Com poucos apoiadores financeiros, mas com muita coragem, a Companhia Força, Atitude e Determinação (Cia F.A.D) contou a história de vida, morte e ressurreição de Jesus. Momentos bíblicos relevantes trouxeram a força de um pregador que ia do deserto aos templos para falar de um Deus generoso ao conceder milagres e indignado por não respeitarem suas leis. O lava-pés e a última ceia com os apóstolos também trouxeram a face de um Jesus humilde e voltado ao compartilhar.

 

O ator arapiraquense Denis Sylva trouxe dramaticidade ao conflito vivido pelo filho de Deus diante da traição que estava por vir, bem como na briga espiritual de Jesus com o demônio, no Horto das Oliveiras.

 

 

As cenas no templo, Palácio de César, o julgamento por Pôncio Pilatos, o espancamento de Jesus, a humilhação da coroação com espinhos e a escolha entre Barrabás e Jesus, apesar de terem sido feitas no mesmo cenário não comprometeram a formatação do espetáculo. A força de atuação dos atores foi um dos pontos fortes para o público continuar envolvido emocionalmente em cada cena e, principalmente, reviverem momentos decisivos da vida de Jesus.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O Encontro de Pedro (Sandro Leite) com Judas (Nivaldo Azarias), e o tormento do traidor, trouxeram ao público cenas fortes e intensas, mas foi a aparição do demônio (Henrique Avlis) na cena do tormento de Judas que criou um fato inédito nas apresentações do espetáculo. Devido à aproximação com o público, as crianças foram surpreendidas com a aparição do demônio e o susto criou uma histeria coletiva entre elas com muitos gritos, seguido de risos dos pais. O enforcamento de Judas também gerou apreensão tanto nos pequenos quanto nos adultos.

 

 

A dolorosa Via Crucis e o encontro de Jesus com Maria foram momentos que emocionaram.

 

 

Os detalhes e cuidados com as cenas da crucificação de Jesus, parte mais dramática de todo o espetáculo, o sofrimento, a conversa com os ladrões, a água substituída por vinagre, o questionamento de Jesus a Deus, sua entrega ao Pai, a lança no coração e a retirada de Jesus morto da cruz tocaram profundamente o público que se aglomerou em frente à cena.

 

 

A Ressurreição, com subida de Jesus ao Céu, de forma singela, encerrou de forma digna um espetáculo que teve o comprometimento de retomar a tradição da encenação da “Paixão de Cristo” no Morro Santo da Massaranduba e, principalmente, deixar o recado de força dos artistas do agreste, nas entrelinhas.

 

 

Sensibilização

 

Para quem foi ver de perto a apresentação da Paixão de Cristo, no Santuário da Santa Cruz, pode comprovar mais acertos do que erros por parte do grupo que abraçou a realização do espetáculo.  Mesmo com pouco apoio financeiro conseguido, o público presenciou a encenação com som de qualidade (fundamental para o sucesso da apresentação), uma iluminação muito boa que muito contribuiu na construção das cenas, os figurinos, os cenários e tantos outros detalhes que enriqueceram o espetáculo.

 

Apesar de todo o empenho da Cia F.A.D, e das pessoas engajadas no projeto, os recursos levantados não foram suficientes para cobrir todos os gastos do espetáculo. Para quitar um débito de R$ 5.000,00 com fornecedores, o grupo está solicitando doações voluntárias em dinheiro. Uma campanha com venda de bilhetes a R$ 5,00, com sorteio de prêmios, também está sendo feita em Arapiraca. Quem quiser informações como contribuir pode ligar para o número (82) 9.8149.1021, falar com Graça Barros.

 

Sabemos que fazer arte é difícil, mas... será ainda mais difícil sensibilizar uma população a colaborar com quem abraçou uma causa em prol do retorno de uma tradição onde os beneficiados são os arapiraquenses? Nós do Click Due queremos crer que não!