Depois da morte, a volta de Alan García

18/04/2019 02:53 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

O nome de Alan García parece não combinar com o século 21, muito menos com a urgência do hoje e do agora. Era uma figura congelada na década de 80 do século passado. Quando se elegeu presidente pela segunda vez, para o mandato entre 2006 e 2011, já não guardava nada daquele sujeito que empolgou os peruanos lá atrás. Aquela eleição peruana de 1985 influenciou a região. Forçando a barra, digamos que Alan García é uma espécie de precussor da onda “bolivariana”. Por aí.

O governo do homem que prometia guerra à pobreza e distribuição de renda – mais de trinta anos atrás – acabou em desastre. A receita biruta de combate à inflação, à base de pacotes mágicos cuja maior feitiçaria era o congelamento de preços, teve efeitos contrários ao que pregavam craques da economia – todos de veia estatizante e intervencionista. Mais ou menos como tivemos nos tempos de Sarney e Collor. O fracasso do primeiro governo de García deu em Alberto Fujimori.

Nosso personagem, o ex-presidente do Peru tratou de providenciar tintas dramáticas ao desfecho de sua trajetória – na política e na vida. Investigado por corrupção no grande esquema multinacional da Odebrecht, Alan García recebeu voz de prisão em casa, nas primeiras horas do dia. Pediu aos policiais para subir até o quarto e fazer uma ligação para seu advogado. Mas, uma vez longe do alcance da polícia, ele se matou com um tiro na cabeça. A morte sacode um país e muda o rumo da política.

A notícia dessa inquietante tragédia (individual e coletiva) nos lembrou, como em 2006, que Alan García ainda estava por aqui, fazendo política como antigamente – com improváveis simpatizantes e ao mesmo tempo ferozes detratores. O problema é que uma novidade inconveniente acertou o político de um modo devastador, como ele nunca havia até então experimentado. As suspeitas de corrupção destruíram, no García atual, o que restava do ideal que embalou um povo no passado.

E como esse cara estava mais no passado do que em dia com os novos tempos – é uma impressão –, suspeito que muita gente ouviu falar dele somente agora, com sua imagem atrelada ao gesto radical do suicídio. E só isso. Mas tantos outros, como o blogueiro aqui, parecem rever imagens de uma época remota, lá quando a gente mal começara qualquer coisa. Afinal, pra todo mundo, mais de três décadas de memória é loucura. Talvez porque fatos e pessoas, passa o tempo, vão e voltam.

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