Marielle Franco e a bandidagem na política

13/03/2019 16:45 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

Durante a campanha eleitoral do ano passado, o então candidato ao governo do Rio Wilson Witzel protagonizou uma cena inacreditável: discursou ao lado de aliados políticos que exibiam uma placa destruída por eles e que homenageava Marielle Franco, a vereadora assassinada em 14 março de 2018. No atentado, também foi morto o motorista Anderson Gomes. Depois de eleito, Witzel declarou que o crime seria investigado “como outro qualquer”. Ele é ex-juiz federal. Mais um rei de toga.

Agora, como se tivesse esquecido sua atitude torpe, o governador tem a cara de pau de posar de responsável pela prisão dos dois suspeitos de serem os autores materiais do crime. Na entrevista coletiva desta terça-feira, o ex-juiz sem compostura usou a ocasião para sambar na demagogia mais vagabunda. A verdade é que ele é parte da onda extremista de direita que vive a fazer piada com a morte da vereadora. Sua dedicação por esclarecer o crime é só fingimento e oportunismo.

Já o presidente da República, como sempre, falou porcarias ao se manifestar sobre o assunto. Bolsonaro disse que também quer saber se houve mandantes no duplo assassinato e completou com uma comparação estúpida, além de descabida: afirmou ainda estar esperando o esclarecimento sobre a facada de que foi vítima durante a campanha. Ocorre que esse caso está esclarecido.

Sim, a Polícia Federal fez de tudo e mais alguma coisa, revirou a biografia do autor do ataque, Adélio Bispo de Oliveira, e não resta dúvida: ele agiu sozinho, movido por sua perturbação mental, devidamente demonstrada por laudos médicos. Mas a realidade não interessa a Bolsonaro e sua horda de fanáticos. Ele se agarra à ilação de que teria sido vítima de um atentado da esquerda.

Por mais que as evidências sejam incontestáveis quanto à iniciativa isolada de Adélio Bispo, o presidente e sua corja vão continuar espalhando mentiras para insuflar a versão de crime político – e querem de todo jeito jogar o caso nas costas de adversários. Sem ter o que mostrar como um verdadeiro estadista – porque estadista ele nunca será –, precisa de fantasias para enganar a claque.

Sobre a morte de Marielle, é um escândalo a tabelinha entre políticos, polícia e milicianos. O Rio de Janeiro parece um caso perdido. Dez anos depois da CPI das Milícias, viabilizada na Assembleia Legislativa fluminense pelo então deputado estadual Marcelo Freixo, pelo visto nada mudou. Autoridades se misturaram a tal ponto com a bandidagem, que hoje é tudo a mesma coisa.

No mais, viu-se que a investigação das mortes de Marielle e Anderson foi miseravelmente sabotada por medalhões das forças policiais e de governo, incluindo delegados da Polícia Federal que agiram como soldados de organização criminosa. Num quadro degenerado como esse, é um desafio e tanto chegar aos mandantes do atentado. A velha pistolagem continua uma de nossas firmes tradições.

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