Os eleitores de Jair Bolsonaro acreditam que o Brasil vivia até hoje sob as ordens de um governo socialista. Eles também acreditam, ao que parece, que esse regime, que vigorou no país até 31 de dezembro de 2018, trouxe um mar vermelho de infelicidade para o povo deste lugar. Por isso, o novo presidente foi ovacionado quando, no discurso de posse, anunciou uma bomba.

Disse o agora inquilino do Palácio da Alvorada: “É com humildade e honra que me dirijo a todos vocês como presidente do Brasil, e me coloco diante de toda a nação neste dia como o dia em que o povo começou a se libertar do socialismo”. Eu não sei o que é mais bombástico, se o anúncio do novo presidente ou a revelação de que estávamos todos sofrendo o terrível jugo de malvados socialistas.

Eu falei, em texto anterior, que Bolsonaro havia confirmado as expectativas sobre o que diria ao povo na cerimônia de posse. Mas talvez o mais preciso seja dizer que ele superou todas as previsões: foi mais bizarro do que se poderia imaginar. Quer dizer que, de Sarney a Temer, passando por Collor, FHC, Lula e Dilma, todos seguiram a nefasta ideologia que ameaça a família?!

O sujeito que agora governa o país garantiu a eliminação da “inversão de valores” e do “politicamente correto”. Pense bem: como será que um governo que se diz democrático vai operar esses “projetos”? Como ele não explicou sua estratégia, nada sabemos sobre o que pretende aprontar. Bolsonaro também vai trabalhar duro para valorizar nossas tradições “judaico-cristãs”. Oremos, amém!

Na parte final do discurso, o presidente empossado avançou ainda mais, ao se refestelar na noção mais rasteira de um patriotismo típico de tiranetes que chefiam republiquetas: “Nossa bandeira jamais será vermelha. Só será vermelha se for preciso nosso sangue para mantê-la verde e amarela”. Assim, trocamos o maldito modelo socialista por um populismo de quinta, sob Bolsonaro-Mourão.

Nem vou aqui debater conceitos e visões sobre socialismo, porque, para contestar Bolsonaro, uma piada é suficiente. Essa tranqueira sabe lá alguma coisa sobre regimes de governo, ideologias ou geopolítica? Temos agora um presidente de pensamentos vulgares, e nada além disso. Seus ideais passam pela força bruta, pela violação de direitos e pela afronta à letra da Constituição.

Mas o discurso do presidente, sem dúvida, está à altura de sua mediocridade, exposta sempre com sandices embaladas pela truculência verborrágica. A peça lida por Bolsonaro deve ter sido escrita por alguém de sua patota, afinado com o analfabetismo do chefe. O mais estranho é que esse pessoal produz vexames com muito orgulho. Agora que o socialismo acabou, o que será de nós?

Se fosse possível, pediria orientações a advogados, promotores, juízes, empresários e jornalistas que abrilhantam a Direita Alagoana. Mas, como não tenho paciência para explicações eruditas, talvez seja melhor me alistar nos novos Comitês de Caça a Comunistas, me juntar aos cidadãos de bem, meter uma arma na cintura e avisar, de uma vez por todas: acabou a mamata. É pau, é pedra, é bala!