Os saudosistas da ditadura militar adoraram. Historicamente sintonizado com os donos do poder de plantão, Silvio Santos conseguiu, como só ele conseguiria, descer ao ponto mais baixo para bajular o presidente eleito Jair Bolsonaro. O SBT, a televisão do homem do baú, acaba de lançar uma campanha de exaltação aos valores da pátria. As peças trazem o slogan “Brasil, ame-o ou deixe-o”.

Depois de um bombardeio de críticas pela internet, o SBT tirou do ar a propaganda com o famigerado slogan – que foi criado no governo Médici, na fase mais cruel do regime instalado em 1964. A ideia criminosa do mascate televisivo ficou no ar menos de um dia. Mas a campanha do SBT em defesa do “Brasil grande” continua, com outras vinhetas que têm o mesmo espírito da coisa.

Silvio Santos ganhou sua TV no governo do general João Batista Figueiredo, a quem ele não cansava de homenagear com demonstrações da mais nojenta subserviência. Portanto, a reedição do slogan dos tempos das trevas está de acordo com a trajetória do maior animador de auditório do país. Ele sente de longe o cheiro da grana pra irrigar os cofres de sua empresa. Radar de oportunidade.

Vamos lembrar que, nos ataques que fez à Folha de S. Paulo, Bolsonaro disse que a verba publicitária será distribuída apenas para a imprensa amiga, o famoso jornalismo chapa branca. É a lógica desse estadista. Aí, muito espertamente e sem qualquer vergonha na cara, Silvio se antecipou para deixar bem claro ao futuro presidente que pode contar com o SBT. Pior que isso é impossível.

Como vocês sabem, as peças da campanha de exaltação ao patriotismo no SBT podem ser conferidas nos sites de notícia. A iniciativa usa também a trilha sonora que era marca registrada dos golpistas de 64. “Pra frente Brasil” é a musiquinha mais conhecida do velho repertório.

Vamos lembrar ainda que Bolsonaro já defendeu que seu sonho é que o Brasil volte a ser o que era “quarenta ou cinquenta anos atrás”. Mais uma vez, Silvio se antecipa e nem espera a posse do capitão da tortura: ao menos na adesão governista, a TV do apresentador já fez a viagem no tempo.

Sobre o slogan de péssimas lembranças aos brasileiros decentes, a assessoria do SBT teve a coragem de “esclarecer” que ninguém por lá fazia ideia de que a frase tinha sido usada pelo marginal Garrastazu Médici. Aí é demais! Está claro que ocorreu exatamente contrário. Foi deliberado.

Sabemos que a rede do “bispo” Macedo, a Record TV, é mais governista que o governo. Sabemos que a Globo embarcou no governo de Paulo Guedes e Sergio Moro. Para dizer o óbvio, jamais espere jornalismo crítico no mundo televisivo. Isso é tão ficcional quanto uma “nova direita alagoana”.

E esta é a nova era na qual acabamos de cair com a eleição de Jair Bolsonaro para presidente da República. E veja que o circo está ainda no começo. A cortina para o espetáculo principal será aberta em primeiro de janeiro. Talvez seja o caso de nosso estadista tomar posse no programa Silvio Santos.

Os dois poderiam participar de uma maratona como aquelas em que Silvio joga aviõezinhos fabricados com cédulas de real. Mas é Bolsonaro que solta o velho bordão: “Quem quer dinheirooo?!