O governador Renan Filho reuniu prefeitos do Sertão e do Agreste para dar a eles uma ótima notícia: haverá um investimento de 8 milhões de reais para enfrentar os efeitos da seca que atinge os municípios. Pelo que entendi, os gestores estão agoniados com o problemão da estiagem. O dinheiro será do Estado e do governo federal, segundo divulgado em concorrida entrevista coletiva.
Quase fiquei comovido com o drama das autoridades. Estranhamente, pelas imagens vistas na TV o encontro no Palácio República dos Palmares parecia uma festa. A animação estava no semblante de cada um dos presentes ao evento. Imagino que deve ser pela satisfação em poder ajudar as populações vitimadas pela falta de chuva. Nada como cumprir uma missão tão necessária.
Agora podemos ficar mais tranquilos. Com a grana liberada, as prefeituras certamente aplicarão cada centavo para socorrer os sertanejos. Só uma coisa não combina muito com tudo isso. Se não estiver enganado, na campanha eleitoral vimos o governo estadual mostrando as maravilhas da atual gestão que serviram para levar água a essas regiões da seca. Na publicidade, acabou o sofrimento.
Na propaganda eleitoral, era adutora pra todo lado, Canal do Sertão abastecendo milhares de residências, poços e cisternas garantindo o cultivo da agricultura familiar – uma verdadeira revolução no interior alagoano. Duas semanas depois da eleição, com o governador reeleito, descobre-se que o clima esquentou, com temperaturas terríveis, e a seca ameaça dizimar pessoas e plantações.
Dos 38 municípios que receberão uma boa grana para salvar o povo da estiagem, alguns estão à beira do São Francisco, mas é como se não houvesse rio nenhum na região. Já nos arredores de outras tantas cidades, corre límpida e transparente a água do já citado Canal do Sertão. Mas ainda assim a terrível seca não dá trégua. O jeito é ação emergencial, claro, de repasse aos prefeitos.
Para fazer justiça, devemos ressaltar o óbvio – que o governo Renan Filho não inaugurou esse modelo arrojado de enfrentar a recorrente estiagem nos sertões alagoanos. Seria atribuir ao atual governador a primazia de algo que, sabemos, é uma das intocáveis tradições brasileiras. Já era assim desde a Velha República, avançou pelas décadas e, pelo visto, terá um interminável futuro.
A expressão é antiga, bem remota mesmo, mas resiste ao tempo, como tantas outras na política nacional: estamos diante da famigerada Indústria da Seca, cujo principal produto é o voto do cidadão. Enquanto essa lógica prevalecer, nem que desabe um dilúvio, o drama da falta de água chegará ao fim. Ainda bem que temos essa eficiente política pública de mandar dinheiro extra a prefeituras.