Começou bem. Escolhido relator da CPMI do INSS, o deputado federal Alfredo Gaspar, da facção União Progressista, quer visitar Bolsonaro, o criminoso que está em prisão domiciliar. Não faz o menor sentido, mas é perfeitamente previsível a solicitação do parlamentar alagoano. Uma das vozes mais reacionárias da política brasileira, Gaspar quer orientações de seu chefe e guru. Dá para levar a sério o que está a caminho?

A função de relator numa Comissão Parlamentar de Inquérito é tão ou mais importante do que a presidência dos trabalhos. Além de condição privilegiada para interrogar os convocados a depor, cabe ao escolhido para a relatoria o texto final da CPI. Não por acaso, em várias ocasiões, acaba saindo um relatório alternativo por falta de acordo.

Como sabem até os arcos e as curvas de Niemayer em Brasília, a oposição viaja na fantasia de que está diante de uma janela de oportunidade. Bolsonaristas e a ultradireita em geral querem usar a CPI para fazer politicagem e atacar o governo. É o único objetivo dos cidadãos de bem. O pedido de Gaspar prova o tamanho de sua “isenção”.

Novidade nenhuma. Relator do projeto que suspendeu a ação penal contra o deputado Alexandre Ramagem, Alfredo Gaspar votou pelo arquivamento de toda a investigação contra todos os golpistas. O homem tem coragem e não tem medo do vexame! O alagoano engrossa a fileira dos que querem anistia geral aos bandidos do golpe.

Em entrevista à Folha, o relator escolhido diz que será “imparcial”, que vai “seguir a trilha do dinheiro” e que “não vai carimbar governo A, B ou C”. Um cara muito sério. Agora veja o que disse o mesmo Alfredo Gaspar um dia desses em suas redes sociais: “O que Lula fez com os aposentados é uma vergonha”. Parece uma contradição mortal. 

Tem mais. Quando o desvio do INSS veio a público, Gaspar foi rápido no gatilho. Em entrevista à CNN Brasil, ele mandou bala: “O governo Lula meteu a mão em mais de 6 bilhões de reais de aposentados e pensionistas”. O estilo do futuro relator da CPMI é esse daí. O veterano xerifão que atira primeiro e pergunta depois.

A roubalheira no INSS começou na gestão Temer, passou por Jair Bolsonaro e finalmente foi descoberta no governo Lula. A Polícia Federal investiga. O planalto reagiu com agilidade. Vítimas do golpe já receberam mais de 1 bilhão de reais em ressarcimento. Infelizmente, a CPMI nasce contaminada por interesses vagabundos. Uma pena.