O capitão que ameaça virar presidente visitou a sede do Bope nesta segunda-feira. É aquele famigerado batalhão da Polícia Militar carioca, mundialmente famoso depois do filme Tropa de Elite. Os garotões do Bope são especialistas nas seguintes táticas de combate ao crime: invasão a casas de miseráveis, tortura à base de pancada e de saco na cabeça e eliminação de perigosos suspeitos – pretos e favelados. Com a turma da faca na caveira, Bolsonaro se sentiu um “pinto no lixo”.

Há certas escolhas na vida que dizem tudo sobre a cabeça de um sujeito. O candidato se irrita ao ser chamado de homofóbico, racista, misógino e fascista, entre outros elogios a sua personalidade. Tenta negar uma verdadeira antologia de atitudes que fizeram dele o homem público que ele é.

Ainda que seus eleitores façam de conta que estamos diante de alguém pacato e que respeita as diferenças, nenhuma maquiagem retórica terá o poder de apagar o deplorável histórico de gestos e opiniões do candidato-caveira. Afinal, são 28 anos de mandatos e abusos contra direitos humanos.

Na votação do último domingo, um demente apertou as teclas da urna com a ponta de um revólver de brinquedo. Acabo de ver, no celular de um amigo, mensagem de um sujeito avisando em seu grupo de WhatsApp que “ou vai de Bolsonaro ou leva bala”. Junto, a imagem de uma pistola.

E esse é um tipo de comportamento bizarramente espalhado pelo país. Também no dia 7, em várias cidades, pessoas identificadas como eleitores de Haddad foram agredidas pelos seguidores da seita bolsonarista. De onde vem toda essa tara por tiros, fuzilamentos, cadeias, batalhões, ditadura...?

Nos últimos anos, o PT em geral e Lula em particular foram acusados de incentivar o “FLA-FLU”, o “Nós contra Eles”. Bom, se isso era um problema, o que temos hoje beira a pregação do extermínio de adversários – e esse é o espírito de Bolsonaro. Não é opinião, é a prática do candidato e sua turma.

Para quem elogia figuras que torturaram e assassinaram durante o regime militar; para quem afirma que o erro dos ditadores foi não eliminar todos os opositores, nada mais natural que uma visitinha de cortesia ao batalhão da morte. Bolsonaro é uma anomalia sob qualquer critério que se imagine.

O mais patético nisso tudo é a horda de figurinhas da elite analfabeta brasileira que caiu nos braços do capitão. Aqui em Alagoas sei de afamados “operadores do Direito” – gente milionária e letrada – que destila ódio em redes sociais, falando em defesa dos valores da família e do cristianismo.

O que essa rapaziada gosta mesmo é de vida boa, longe da gentalha que não reza pela cartilha dos patriotas. Suponho que esses “cidadãos de bem” devem ter vibrado vendo o cabra macho bajular a tropa mais violenta do Brasil. Se eleito, Bolsonaro prometeu que os “caveiras” estarão no comando.

Em 28 de outubro, o Brasil vai escolher entre o respeito à vida e o desprezo pelo semelhante. De fato, não se trata de esquerda contra direita. Bolsonaro nem sabe o que é uma coisa ou outra. Seu idioma é o insulto; seu método é a truculência. É verdade, o Brasil flerta com o abismo sem fim.