Se você está entre os milhões de brasileiros que não largam o seu telefone celular, 25 horas por dia conectado à Internet, provavelmente mantém uma intensa troca de ligações e mensagens pelas redes sociais. Não faço parte dessa estatística da modernidade que engoliu o mundo com as chamadas novas tecnologias. Vez por outra, toca o telefone aqui de casa – telefone fixo, que hoje é quase raridade no Brasil do Museu do Amanhã. Suspeito que estou no Museu de Anteontem.

Desperdiço o tempo do leitor por causa de algo inusitado que acaba de acontecer por aqui. Como quase nunca ocorre, pois não é que o aparelho fixo tocou finalmente?! Lá fui eu atender – mas não era o meu amor. Era uma gravação, com voz feminina, e uma pergunta: “Olá, você sabia que o candidato Fulano de Tal recebe três aposentadorias do serviço público que somam 77 mil reais”?

Pausa. Tomado pela curiosidade, fiquei em silêncio. Logo depois, a doce voz acrescentou o seguinte: “Se você tem conhecimento que o candidato Fulano de Tal recebe três aposentadorias, digite 1; se você não sabia, digite 2”. A garota do outro lado da linha repete a pergunta e apresenta as alternativas para minha resposta mais duas vezes. Jornalista mequetrefe, desinformado, digitei o número 2.

Tive curiosidade de ver o que aconteceria após teclar a resposta que informava minha ignorância sobre o suposto fato. Mas, como previa, findou-se a ligação assim que apertei a tecla de número 2. Claro que não posso revelar aqui o nome do candidato citado no telefonema inesperado. Posso apenas informar que se trata de um postulante a mandato parlamentar nas eleições alagoanas. 

Naturalmente isso faz parte da guerra virtual que assola o país inteiro a oito dias da votação de primeiro turno. Imagino o quanto essa disputa sanguinolenta não anda fazendo estragos por aí. Tratei disso no texto anterior, quando me referi à indústria de falsidades em grupos de WhatsApp e armações por todas as redes sociais. À medida em que as urnas se aproximam, a bandalheira avança.

Depois desse exótico diálogo com a garota-robô, o que será que farão com minha resposta sobre o alagoano tricampeão de aposentadorias? Seria um levantamento pra decidir levar ou não o caso às propagandas eleitorais na TV? Não acho que seja por isso. Certamente a mesma “pesquisa” está sendo feita por celular e por todas essas coisas conhecidas por aplicativos. Espalha-se a “notícia”.

Verdade ou não, o mentor da estratégia aposta no eleitor desavisado. Como a ligação que recebi foi num jurássico telefone cujas únicas funções são falar e ouvir, não corro o risco de receber vídeos perigosos ou nudes de candidatos mais ousados no método de captar votos. Ainda bem!