O sujeito ocupa uma secretaria de governo estadual, uma pasta na prefeitura ou até mesmo um ministério no âmbito federal, e pronto: é o passaporte para embarcar numa campanha para deputado ou senador, espalhando que fez verdadeiros milagres quando esteve no Poder Executivo. Estamos vendo exatamente o que acabo de descrever na corrida eleitoral em curso. Eis aí uma tradição intocada ao longo das disputas por voto na história do país. Um acinte à luz do dia.

O que isso significa? Entre outras coisas, significa que o elemento que ocupa um cargo na máquina governamental não passa de carreirista atrás de se dar bem em jogadas políticas e eleitoreiras. Resta evidente que secretarias e ministérios são usados exclusivamente como trampolim. Não bastasse isso, ao deixar o posto para cair na eleição, o sujeito sai dizendo que foi um gênio na gestão pública, quando, na realidade, seu desempenho não vai além da mediocridade. E ainda quer nosso voto.

Equipes de governo deveriam ser montadas a partir de critérios técnicos que atestassem a qualificação dos nomeados. Mas não. Governadores, prefeitos e presidente loteiam o serviço público com figuras tacanhas, escolhidas pelas mais rasteiras conveniências partidárias. Enquanto estivermos sob esse padrão degenerado de gestão pública, continuaremos a aguentar um plantel de mequetrefes fantasiados de autoridades em qualquer coisa. É o que virá das urnas, de novo.

Se os cargos servem para fazer decolar a trajetória de iniciantes no mundo dos esquemas políticos, também são usados, com frequência, para acomodar caciques em decadência. Velhos personagens, com mandatos sucessivos, que perdem uma eleição, acabam premiados com uma repartição para continuar aprontando suas estripulias às custas do dinheiro do povo. É uma invenção dos infernos.

Nesses casos, o governador e o prefeito viram reféns de alguns de seus subordinados – os mais tarimbados na praça. As secretarias se tornam territórios controlados por gente que está acima do chefe. É o que temos hoje mesmo, em vários níveis, aqui em Alagoas. Sem poder sobre o nomeado, como exigir desempenho e cobrar explicações diante de eventuais erros? Nunca dará certo.

Enquanto secretários usarem as secretarias para emplacar seus planos pessoais e promover todo tipo de pilantragem política, nossos índices em educação, saúde, segurança e tudo o mais estarão sempre no buraco. Como resolver isso? Talvez uma nova legislação, com definição de requisitos obrigatórios para a ocupação de cargos fosse um caminho. Mas estamos longe de algo assim.

Por enquanto, meu amigo, vamos continuar aturando essa tragédia na vida brasileira. Imagine que ainda temos o velho hábito de nomear os parentes para os cargos de confiança, geralmente as secretarias de peso. Aí o carreirismo eleitoral se casa com as conveniências dos interesses familiares. Afinal, os clãs precisam garantir a mamata da atual e das futuras gerações. Difícil!