Ainda bem que doutores do Ministério Público Federal passam longe das periferias de Maceió. Concentradas em manter a higiene e a exclusividade das áreas nobres, as autoridades não atrapalham o meio de vida dos milhares de moradores dos bairros distantes. O que é que há? Refiro-me à decisão que expulsa os comerciantes donos de food trucks na praia da Pajuçara. Eles têm seis meses para sumir daquela paisagem.

Segundo informou o MPF na semana passada, aqueles carros que vendem comida, bebida e tira-gosto representam uma ameaça da gota serena ao meio ambiente. O texto da assessoria de imprensa do órgão chama atenção pelo tom alarmista. Parece que estamos à beira de uma catástrofe ambiental por culpa daqueles batalhadores.

Três anos atrás, esse tema estava na pauta por uma ação também do MP, mas o estadual. O discurso oficial era o mesmo de agora, com superlativos que atribuem aos comerciantes todos os males do presente e do futuro, caso não pulem fora daquele pedaço favorito de gente diferenciada. A turma de negociantes polui o cartão-postal.

Desde que ocuparam a área perto da feirinha de artesanato, os donos de food truck não provocaram nenhum dano ao local – a não ser aos grandes empresários de bares e restaurantes por ali instalados. Eles se sentem incomodados com a “concorrência” dos pequenos empreendedores. Mas isso é uma ficção sem base na realidade.

Pelo que entendi, prefeitura e MPF se acertaram sobre o prazo para desocupação da área. Gestores e autoridades estão sendo bonzinhos: deram até março de 2026 para que o caso esteja resolvido. Assim, os “invasores” garantem a renda na alta temporada que vem chegando. Depois, que se danem e procurem outro meio de sobrevivência.

Mas food truck tem em todo lugar. Sim, mas longe de toda a faixa entre Jaraguá e Jatiúca. É o que defende o MPF. Ali é para barracas descoladas e restaurantes finos. Coisa de gente vip, como promotores e juízes. O público requintado não frequenta ambientes manchados por vendedores e seus cacarecos. Natural que sejam banidos.

Tem decisão judicial, alega o MPF. Mas sentenças da Justiça devem levar em conta os impactos sociais. Não há argumento para arrancar daquelas pessoas a fonte de renda para tocar a vida. O bom senso recomenda medidas alternativas que contemplem o trabalho de famílias inteiras. Bom, mas isso não é problema dos doutores.

Retomando o começo da conversa, celebro que essa fúria legalista “em defesa da cidade” não chegue às periferias. Deixem o povo trabalhar em paz. Quanto à prefeitura, espera-se um gesto de decência nisso tudo. Está aí uma ótima oportunidade para mostrar que Maceió é massa para todos – e não apenas para a “nobreza”.