Homofobia, preconceito contra a mulher, racismo, defesa da tortura e exaltação à ditadura militar. Sem surpresa, esse foi o cardápio principal da entrevista de Jair Bolsonaro ao Jornal Nacional desta terça-feira. Várias vezes questionado sobre posições abertamente autoritárias, o candidato tergiversa, dá respostas que não esclarecem nada e reafirma seu pensamento torto. Um caso perdido.

Bolsonaro repete uma tática consagrada quando levado às cordas, tendo que responder sobre temas incômodos. Se você diz que ele é um brucutu, disposto a lamber o coturno de um milico ditador, ele aponta o dedo para Roberto Marinho: “Apoiou a revolução de 64”. Se é criticado pela imoralidade do auxílio-moradia, ele fala da “pejotização” de jornalistas – comparando coisas incomparáveis.

O sujeito é o que é. Quando ainda se arrumava na cadeira, Bolsonaro fez o seguinte comentário sobre o cenário da entrevista, nos estúdios da Globo: “Isso aqui tá parecendo uma plataforma de tiro de artilharia. Tô confortável aqui”. Resolver as coisas na base da pistola é uma ideia fixa num cara que pretende governar o país. Os rapazes e marmanjos apaixonados pelo valentão deliram com isso.

Ele ganhou ou perdeu no embate com a dupla do jornalismo global? Bem, na opinião da “nova direita alagoana” (sim, essa marmota existe), ele arrasou. Para esse pensamento de alto nível – os nossos liberais conservadores e analfabetos –, o mito enquadrou os apresentadores “esquerdistas” do telejornal. Você leu certo: os intelectuais bolsonaristas denunciam o comunismo da Globo. 

A Globo “bolivariana”. Eu sempre lembro desse detalhe porque torna tudo mais claro sobre a mente de uma galera engajada por uma “nova política”. Não, o que essa gente quer mesmo é um ditadorzinho pra chamar de seu. Por aí, teríamos o voto sendo usado para eleger um tiranete. Em outras palavras, recorre-se a um expediente da democracia para sabotar essa mesma democracia.

A linha de entrevista do JN repete a fórmula adotada em eleições anteriores: praticamente não se fala de programa de governo; todo o tempo é usado para constranger o candidato diante de suas próprias posições. Para isso, os apresentadores trazem questões antigas, algumas fora da agenda na atual campanha. Em alguns momentos, a reiteração chega a ser cansativa e até inútil.

Esse problema apareceu na conversa com Ciro Gomes e Bolsonaro, e vai ocorrer também com Alckmin e Marina Silva, os próximos a serem entrevistados. A estratégia da emissora, em alguns momentos, parece esgotada. A suposta “arrogância” dos jornalistas é criticada por muitos.

Se a participação dos candidatos no JN terá algum efeito imediato na intenção de voto, só vamos saber quando vierem as próximas pesquisas. Não dá para cravar nada apenas a partir da histeria nas redes sociais – porque esse é o terreno da distorção da realidade e da proliferação de preconceitos.