A série de entrevistas com presidenciáveis no Jornal Nacional começou do jeito previsível – provocando reações irritadas à postura dos entrevistadores, Willian Bonner e Renata Vasconcelos. Diante de Ciro Gomes, o primeiro a comparecer à bancada, nesta segunda-feira, os jornalistas foram acusados de se comportarem com arrogância. Interromperam várias vezes o candidato.

Nada de novo. Desde que o JN inaugurou as entrevistas nas eleições para presidente – salvo engano, isso ocorre desde 2002 –, a linha do programa é de jogo duro. E tem de ser assim mesmo. O telejornal não deve permitir que o candidato use a entrevista como palanque para propaganda. Ele tem de ser confrontado com temas delicados que precisam de respostas objetivas.

O problema é como fazer isso sem abusar no tom e sem gastar muito tempo da entrevista. Segundo o UOL, com Ciro, a participação dos apresentadores tomou 40% da duração da conversa. É muito. A dupla tem obrigação de zelar pela objetividade e concisão nas perguntas. Se, a cada tema, houver um verdadeiro discurso para formular a questão, o candidato será prejudicado. Isto, sim, é um erro.

Apoiadores de Ciro Gomes não gostaram da insistência dos apresentadores ao tratarem da proposta do candidato sobre “nome sujo no SPC”. De fato, a ideia de Ciro foi apresentada por ele, em entrevistas anteriores, com boa dose de populismo. É como se o governo pudesse, da noite para o dia, livrar a cara de todo mundo que está pendurado com dívidas na praça. E isso é pura ilusão.

O candidato também foi contestado sobre, digamos assim, a honestidade de Carlos Lupi, presidente nacional do PDT, a legenda que abriga Ciro. Ele disse confiar cegamente no companheiro partidário, o que parece uma afirmação temerária. No geral, penso que o presidenciável foi bem. Preocupado com a imagem de destemperado, Ciro se esforça para exibir firmeza, mas com serenidade.

Na noite desta terça-feira, será a vez de Jair Bolsonaro. Vai sofrer com a linha dura adotada pela bancada do JN. Sua tropa de rapazes e marmanjos fanáticos já prepara a artilharia contra a Globo. Podemos apostar, sem medo, que o festival de chiliques e choradeira tomará de assalto as redes sociais. Sem qualquer ideia na cabeça, todo assunto é um drama enigmático para o candidato.

Quarta e quinta-feira, o JN recebe Geraldo Alckmin e Marina Silva. Se 25 minutos de entrevista no horário de maior audiência da TV brasileira não garantem votos, um deslize pode botar o eleitor para correr. É esse o temor que está na cabeça de marqueteiros e candidatos. É tensa a campanha.