Todo ano de eleição é a mesma coisa. Um bocado de professores de universidades públicas larga o trabalho acadêmico e embarca na aventura das urnas. Aí eu fico me perguntando o que esses caras pensam do ensino superior, da produção de conhecimento, da formação em sala de aula, dos estudos e da pesquisa em geral. Porque política partidária nada tem a ver com tudo isso.
Sabe por que vigora esse tipo de promiscuidade? Porque esses caras sabem que podem sambar pra todo lado, a hora que bem entendem, que a sinecura universitária está garantida para sempre. O sujeito abandona as atividades para as quais foi contratado, sem qualquer preocupação com nada nem ninguém, a não ser com seus próprios interesses e de seus partidos políticos.
No caso de derrota nas eleições, os perdedores voltam aos departamentos e às aulas depois de alguns meses. Sendo eleitos, aí serão alguns anos longe do mundo acadêmico, sem previsão de retorno. Talvez demore uma década, vai saber. De uma coisa eles têm certeza: seja lá quando for, a universidade estará sempre ali, prontinha para recebê-los de volta – até a próxima aventura.
Não levo a sério esse tipo de “pensador”, “acadêmico”, “intelectual” ou sei lá o quê. São apenas militantes de cartilhas partidárias, que se valem de uma instituição para repetir as porcarias do mais puro proselitismo, em nome de causas particulares. Isso não tem qualquer relação com a universidade, com a educação. É uma absurda distorção das finalidades do mundo do ensino.
Natural. Estamos falando da coisa pública. E se é público, dane-se o zelo com o trabalho. Como disse, o que interessa é que esses mestres-candidatos têm cadeira cativa no lugar que é tratado com desprezo por eles mesmos. E o país permite isso, incentivando que, a cada eleição, outros e outros sigam o mesmo caminho degenerado. Depois reclamam de crise na universidade. É demais.
Se querem entrar para a carreira política; se pretendem servir a um partido, a uma patota, a uma suposta ideologia qualquer, então caiam fora da universidade de uma vez por todas. Deixem a vida acadêmica para quem leva sua vocação a sério. Mas não. Quem vai dispensar uma boquinha dessas? Os doutores-candidatos estão seguros de que podem tratar a educação como “bico”.
Em vários cursos da Universidade Federal de Alagoas e da Uneal (a universidade pública do Estado), os estudantes reclamam da falta de professores. Procurem nos partidos, procurem nas secretarias e demais cargos dos governos e das prefeituras. Eles estão por aí, ostentando com empáfia o título de especialistas em áreas de conhecimento para as quais nada fazem.
Professor universitário com filiação partidária, que faz do espaço do livre pensamento uma extensão de suas idiossincrasias politiqueiras, é uma dessas pilantragens que o Brasil consagrou. Não há dúvida de que está aí uma das chaves para explicar nosso raquítico desempenho acadêmico frente às universidades estrangeiras. As eleições de agora reafirmam esse modelo destinado ao abismo.
Educação? Desenvolvimento científico? Conhecimento? Esqueça. Eles querem é voto, dinheiro e poder. Nota zero aos doutores cuja única especialidade que dominam é a fraude intelectual.