​Alagoas acaba de ganhar um novo senador. Ninguém deu um voto a ele, mas Givago Tenório jura por Nossa Senhora que vai nos representar com uma dedicação que beira o fanatismo. É mais um daqueles casos de suplente que assume a cadeira na licença do titular. Benedito de Lira, o dono do posto, dá um tempo no mandato para mergulhar integralmente na campanha de reeleição.

A licença do Benedito é de 121 dias, período em que Tenório vai trabalhar duro pelos interesses do povo alagoano. A suplência no Senado é uma pequena aberração que ilustra de modo irretocável o ambiente político nacional. Há muito tempo se fala na extinção dessa figura. Chegará o dia em que uma reforma ampla deverá eliminar essa distorção no parlamento brasileiro.

Agora mesmo, enquanto alianças vão sendo costuradas, um dos desafios dos candidatos ao Senado são os acertos para encontrar suplentes. Cada eleito arrasta dois nomes na suplência. E qual o critério indispensável para a escolha? Esse é o ponto. Praticamente em cem por cento dos casos, vira suplente quem garante grana para bancar a campanha do titular. Pagou, levou.

O suplente que assume no lugar do Benedito é um ricaço do mundo empresarial. O outro requisito para a escolha é o laço familiar. Sobram exemplos, aqui e lá fora, de senadores eleitos que levam na suplência um tio, um cunhado, o pai ou a mãe, e vai por aí. Com esse nível de seriedade em nossa vida pública, temos certeza de que nossos parlamentares têm tudo para um belo mandato.

Por falar em financiamento de campanha, o processo ficou ainda mais complicado após o veto ao dinheiro privado na eleição. Acabou o tempo dos repasses milionários das grandes empreiteiras, bancos e demais setores da economia nacional. A guerra sanguinolenta desde então é pelo bolo do fundo eleitoral com dinheiro público. Ou seja, nunca houve tanta sedução pelo famoso caixa dois. 

O eleitor com espírito poliana, e que acredita em santos na política, pode entrar nas vaquinhas adotadas por candidatos. Você, assalariado que vive no sufoco, pode achar que não custa nada se apertar mais um pouco para doar seu dinheirinho a essas almas puras da política alagoana. Se seu candidato é um jovem idealista, disposto a mudar o mundo, então, doe até o que você não tem.

De minha parte, acho que seu altruísmo teria caminhos mais decentes para contribuir com alguma causa. Mas cada um acredita no que deseja acreditar. O que certamente ocorre é que apoiadores financeiros entram num jogo de compensação: bancam o político que, se eleito, saberá reconhecer aqueles que lhe garantiram sua boa vida por quatro ou oito anos. Na vida real é assim.

Para terminar, o caso Benedito, é bom ficar claro, não traz qualquer novidade. Sua estratégia é a de todos. Imagino as conversas que estão ocorrendo por aí nas negociações para formação de chapas. Todo mundo muito preocupado com projetos e ideias para um Brasil melhor, naturalmente. Em 2019 vamos conferir a qualidade que sairá das urnas. O país sobrevive apesar dessa gentalha patriota.