O jogo jogado no campo da linguagem

21/06/2018 12:32 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

Você já ouviu falar em sistema de jogo com duas linhas de quatro e dois volantes? E uma linha de cinco, com três zagueiros e dois meias avançados? Todo time precisa de um centroavante nato, aquele cara considerado especialista na grande área? Essas e outras questões provocam debates intermináveis entre comentaristas de todos os tipos. Raro é ver novidade no palavrório repetitivo. 

Em tempos de Copa do Mundo, a linguagem restrita ao esporte ganha a visibilidade natural decorrente da cobertura massiva na imprensa. Nos maiores portais de notícia do país, a pauta de política e economia foi sumariamente desbancada para segundo plano. Desde o pontapé inicial, no topo está tudo o que acontece nos jogos e também o que ocorre fora do gramado.

Um dos termos que parece uma criação mais recente é o adjetivo agudo. De repente, todo jornalista ou debatedor eventual cobra um personagem que mostre essa inusitada qualidade. Na seleção brasileira, o volante Paulinho é a peça que atraiu para si a quase novidade que é tal classificação. Por agudo, entenda-se o volante que dá uma arrancada e chega na área inesperadamente.

É um fenômeno que tem história: novas situações forçam o surgimento de palavras e expressões até então desconhecidas. O mais comum, no entanto, talvez seja a adoção de termos inéditos para descrever práticas antigas, mas que pintam até como revoluções, por causa, digamos assim, de um novo vocabulário. É o milenar dilema sobre o ovo ou a galinha no começo de todas as coisas.

Nesta quinta-feira, a Argentina precisa jogar bola, ou a casa cai. Depois de empatar na estreia contra a Islândia, o time de Messi não tem direito a mais um vacilo. Grandes seleções vivem perigo semelhante. É o futebol moderno, alerta o especialista que descobre essa modalidade esportiva a cada quatro anos. Não existe receita infalível e universal para garantir o êxito no placar.

Voltando à linguagem, o treinador também pode armar um esquema com duas linhas de cinco. Com essa formação (ou qualquer outra), o professor pode ainda lançar mão de um atacante que joga flutuando pela entrada da área. Nesse caso, flutuar é um dos verbos mais requisitados para uma análise do jogo. Uma moda verbal para se referir a algo que sempre existiu. 

Pensando bem, a cada bola fora, palavras ao vento e velhas ideias. Sem drama, é do jogo.

Comentários

Os comentários são de inteira responsabilidade dos autores, não representando em qualquer instância a opinião do Cada Minuto ou de seus colaboradores. Para maiores informações, leia nossa política de privacidade.

Carregando..