A cada vez que você vai ao noticiário, de uma coisa pode estar certo: haverá um novo combustível aumentando o incêndio sobre as diferenças políticas no país. A tal da polarização (ou o FLA-FLU das ideias) se alimenta de toda e qualquer tolice. Agora, é a própria gasolina que serve para enlouquecer, mais um pouco, os inimigos mortais – a esquerda e a direita, os petralhas e os patos.

 

Quem denuncia o “golpe” despeja todos os impropérios sobre os “paneleiros” dos tempos de Dilma Rousseff. Cadê os idiotas que protestavam pelo preço da gasolina a 3 reais, e hoje estão calados, pagando 5 reais nos postos? É o que leio em diferentes sites; é o que vejo em vídeos pelo YouTube. Aí começam os contra-ataques, o tiroteio se intensifica em palavrões, e a guerra continua.

 

Se você, que tem um carro, não estiver na rua agora mesmo, se esgoelando num protesto contra esse governo golpista que inflacionou o custo para encher o tanque, então você votou no Aécio, é um tucano fdp. (Menos a direita alagoana, que é mais avançada e prefere o Bolsonaro). Eu falei em debate, mas isso é força de expressão; o que temos mesmo é uma ensandecida troca de insultos.

 

Não vai além disso. Não sei como alguém se sente motivado a repetir todo santo dia a mesma ideia, sacando os mesmos argumentos, pelo simples desejo de atacar um suposto inimigo mortal, que merece toda essa energia. É como se o sujeito acreditasse, mesmo, que sua histeria particular tem tudo para influenciar o rumo dos acontecimentos. Gira, roda, berra pra todo lado, e volta ao ponto.

 

Por essa mesma lógica, há quem assegure que o clima da Copa ainda não contagiou as ruas porque o amarelo é a cor do golpe. Afinal, os cretinos reacionários se vestiram nas cores da bandeira, naquelas passeatas contra Lula, Dilma e o PT. Como torcer então pela seleção de Tite e Neymar?

 

Ainda não vi opiniões por uma torcida contra o Brasil na Rússia. Nem a ala xiita dos vermelhos prega, por enquanto, um boicote à campanha pelo hexa. Será mais uma Copa em que as diferenças ficarão em segundo plano, quando a bola começar a rolar. O coração fala mais alto diante do sagrado.

 

De todo modo, os jogos só começam na metade de junho. É logo ali, mas, como a maluquice ideológica é diária, minuto a minuto, é muito tempo para novas batalhas incendiárias. E não há chance para uma trégua na pancadaria generalizada. Todos estão perigosamente do lado certo.

 

Voltando ao preço da gasolina e à Patolândia amarela, daqui a pouco essa pauta estará esquecida. Porque ninguém perde tempo com nenhum assunto, especialmente os mais engajados na “guerra cultural de narrativas”. Uma inutilidade derrete a outra, com um novo combustível na fogueira.