Prefeituras, caciques e mequetrefes

09/05/2018 16:59 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

Os prefeitos vivem reclamando de falta de dinheiro para cumprir suas obrigações. Alegam que o governo federal não ajuda e, mais que isto, ainda atrapalha quando determina contingência nos repasses legalmente previstos. Sim, volto a um tema recorrente – porque isso parece que nunca tem fim. Como vocês lembram, a Associação dos Municípios Alagoanos já alertou até para o risco de “holocausto”, caso as prefeituras não recebam mais verba da União. O diagnóstico é sempre assim.

 

Aí a gente vê a reportagem no Fantástico, sobre o município de Mata Grande, nos confins do sertão alagoano e nordestino. (Cadê o dinheiro que tava aqui?). Investigação do Ministério Público Estadual revela que a turma que se apossou do comando por lá, em temporada recente, arrastou pelo menos 12 milhões de reais. Um ex-prefeito e um ex-presidente da Câmara estão foragidos. O MP garante que o esquema continua com a atual gestão. As investigações estão em andamento.

 

As informações sobre Mata Grande revelam um modelo, um padrão de governar que atravessa o mapa alagoano de ponta a ponta. Se fizermos um recorte com os últimos dez anos, é impressionante a recorrência de casos em que prefeitos são flagrados com as patas na botija. As denúncias acabam levando também a um troca-troca na chefia das prefeituras, seja por iniciativa das Câmaras, seja por decisão da Justiça. Mas isso não resolve. Na maioria das vezes, sai uma quadrilha, entra outra.

 

Então falta dinheiro devido à crise ou por que as gangues tomam de assalto os cofres públicos? A julgar pelo índice de casos de corrupção nas prefeituras, somos obrigados a eleger a segunda variável como determinante da falência exposta. Quanto mais repasse, mais chance para o enriquecimento de gestores sem nenhum compromisso com as demandas sociais.

 

Na reportagem da Globo, mais uma vez, chama atenção algo também recorrente: a ostentação e a vulgaridade da turma que mete a mão no dinheiro do povo. Sobram aquelas cenas deploráveis de passeios de barco, baladas e farras bancadas com o produto da roubalheira. Confiantes na impunidade, larápios exibem sem medo suas estripulias luxuosas. Sentem-se acima de todas as leis.

 

A Associação dos Municípios poderia se preocupar com essa calamidade. Quem sabe, criar algum programa, alguns mecanismos que ajudassem na transparência dos gastos públicos. Claro que isso jamais será sequer cogitado, a não ser como jogo de cena. Prefeitos adoram falar em “parceria” com entidades como o MP e Tribunal de Contas. Uma brincadeira que não leva a lugar nenhum.

 

Finalmente, deve-se lembrar que esses mequetrefes municipais, dos quais só ouvimos falar nessas horas medonhas de bandidagem, são eleitos na garupa dos caciques que mandam e desmandam na política alagoana. São amigos dos reis, cumprem ordens daqueles que abençoam suas aventuras e assaltos. É uma relação que mistura voto, contas bancárias e malas pretas. A perspectiva não é boa.

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