Diretor de filmes irrelevantes, cineasta alagoano quer ser imortal

29/04/2018 11:52 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

Carlos Diegues é candidato a imortal da Academia Brasileira de Letras. O cineasta alagoano vai disputar a cadeira que era de Nelson Pereira dos Santos, seu colega de Cinema Novo que morreu na semana passada. A notícia confirma algo que me parece uma ironia recorrente no universo da arte. Não importa o quanto um artista tenha trilhado o caminho da rebeldia e da contestação, o tempo acaba por amansar o rebelde e o contestador. Nada como a discutível glória da imortalidade!

 

Um dos filhos da festiva e mitológica década de 1960, Diegues adora repetir – com humor, mas também com uma dose de soberba – que ele e seus parceiros de viagem tinham um objetivo singelo naqueles tempos: mudar o cinema, o Brasil e o mundo. Essa lenda está registrada em várias de suas entrevistas e também em textos publicados por ele na imprensa. No cinema, deu certo.

 

Isso não quer dizer que os filmes sejam, todos, grandes obras. Para falar a verdade, sem o carnaval que domina parte da crítica, na média boa parte da produção de Cacá Diegues e demais nomes do CN é um fracasso. Um dos problemas fatais está justamente na pretensiosa ideia de revolucionar tudo – até o país e o planeta. As premissas ideológicas fulminaram a estética.

 

Mas a fixação num ideal de arte revolucionária, temperado com uma leitura ligeira do marxismo, está longe de ser o único e maior problema em muitos dos filmes do alagoano. Dias Melhores Virão, Um Trem para as Estrelas, Tieta do Agreste, Orfeu, Veja Esta Canção e Deus é Brasileiro, por exemplo, não acrescentam nada ao cinema produzido por aqui. Parece coisa de amador.

 

Títulos como Ganga Zumba, Joana Francesa, Xica da Silva e Bye Bye Brasil, que formam o núcleo duro da produção do cineasta, podem ser lembrados hoje mais como marcos arqueológicos do que como realização de grande arte. Com todo o respeito, Diegues justifica na plenitude a piada que Paulo Francis gostava de contar: os filmes são belas porcarias, mas os diretores são foda.

 

Nomes como Rogério Sganzerla e Júlio Bressane, para mim, construíram um cinema muito mais inquietante – e fizeram obras-primas que o alagoano e outros badalados jamais conseguiram realizar. Talvez por isso, Carlos Diegues, embora tenha concorrência na eleição, alcance o fardão na quase irrelevante ABL. Se conseguir a cadeira, será um imortal de filmes mais mortos do que vivos.

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