As prefeituras alagoanas e o “quintal” dos donos do poder
“É algo inconcebível para os dias de hoje. Era uma organização criminosa que meteu a mão com força no dinheiro do povo. Uma organização com a participação de familiares do prefeito, que transformou a prefeitura no quintal da casa dele”. São palavras do procurador-geral de Justiça, Alfredo Gaspar de Mendonça, ao explicar a operação que prendeu seis acusados de corrupção em Mata Grande, município sertanejo de Alagoas. A especialidade do bando era a fraude em licitação.
Segundo o chefe do MP, apenas com o negócio fraudulento na licitação de veículos foram desviados 12 milhões de reais. As investigações do Ministério Público apontam o ex-prefeito Jacob Brandão como líder do trambique. Com prisão decretada, ele está foragido, assim como seu irmão Júlio Brandão, ex-presidente da Câmara de Vereadores. Tudo em harmonia familiar.
E esse é o ponto que vale algumas palavras a mais. O procurador-geral recorre a uma expressão que de fato traduz bem o caso. O grupo Brandão & Cia. Ltda., com os métodos consagrados ao longo da história alagoana, parece ter transformado a prefeitura no quintal da rapaziada. Agora, se isso é algo inconcebível, como diz Alfredo Mendonça, sabemos que continua em vigor nos dias de hoje, do mesmo modo que foi no passado. Aliás, a prática é inaceitável e criminosa em qualquer época.
Um rápido passeio pelos sobrenomes nas prefeituras do interior do estado, e o desalento cai sobre o dublê de pesquisador. É tudo dominado pelas mesmas famílias, desde que o mundo é mundo. E não apenas na distante paisagem do Sertão. As capitanias hereditárias estão bem pertinho da capital também, ao longo do litoral e se espraiando pelo verde da Zona da Mata.
De pai para filho, a linha sucessória contempla irmãos, tios, sobrinhos, netos e todo aquele que ostenta a credencial indispensável ao poder: os laços de sangue. E não vamos esquecer que os mesmos critérios estão ainda no Legislativo e no Judiciário. Princípios civilizatórios como impessoalidade, entre os poderosos de Alagoas, são tão desconhecidos quanto vida extraterrestre.
Na quase totalidade das 102 prefeituras, um bom número dos titulares no secretariado tem o mesmo sobrenome do prefeito. E olhe que a prática de nepotismo está barrada por lei. Mas secretário é cargo de confiança, de caráter político. Por essa brecha, meu amigo, entra a cambada inteira. Tragicamente, o horizonte sempre será de miséria enquanto vigorar esse resistente descalabro.
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