A Assembleia Legislativa do Estado é alvo de nova investida da Polícia Federal. Investigação em andamento parece ter chegado a indícios de que naquela casa haveria fantasmas disfarçados de servidores públicos. Se confirmado o esquema, estaríamos diante de velha feitiçaria com a folha salarial do parlamento alagoano. Todos devem se lembrar da histórica Operação Taturana, de 2005, que escancarou um assalto de proporções inéditas praticado por deputados. Pegou quase todos.
Mas a tradição de delinquências por ali remonta a décadas. Folha paralela na Assembleia é como contrato de gaveta, com a assinatura de “laranjas” e testas de ferro. Brota como capim. A cada temporada, quando menos se espera, escapam alguns raminhos da floresta submersa. Até hoje, nenhum parlamentar foi punido na esfera judicial pelas traquinagens com o dinheiro público. Nem antes nem depois da Taturana. O novo caso, portanto, reafirma a força do antigo hábito.
As suspeitas de agora fizeram o atual presidente da ALE, Luiz Dantas, vir a público para se pronunciar – o que por si só é quase um milagre. Ainda assim, não falou com a imprensa, soltou uma nota. Ele nunca dá entrevista e, sempre que abordado por jornalistas, faz questão de ser claramente antipático. Sua postura é típica dos que agem como se não devessem prestar contas a ninguém. Não raramente, reage a perguntas com rispidez e menosprezo pelo desavisado interlocutor.
Em sua nota, o trecho que mais me chama atenção diz o seguinte: “Trabalho à luz do dia, irmanado com a legalidade e os princípios que devem nortear a administração pública”. Curiosa essa imagem da luminosidade solar, do brilho do sol, como se o apelo ao clarão da natureza afirmasse com mais ênfase a lisura de suas ações. Como sabemos, a retórica indignada é quase sempre cúmplice dos fatos que tenta esconder. Se este é o caso nos dias de hoje, somente o trabalho da PF pode clarear.
Localizado no Centro de Maceió, de frente para uma praça, entre a biblioteca pública e a catedral católica, sobre o prédio da Assembleia o sol incide durante muitas horas, a cada dia que amanhece. Serei óbvio ao dizer, porém, que tamanha claridade bate no lado de fora, na fachada. Lá dentro, suas excelências trabalham em ambiente arejado, na sombra aconchegante. O mal é o recorrente mergulho nas trevas da corrupção. Quando isso ocorre, nem as luzes do céu barram o crime.