Relator da CPMI do INSS, o deputado alagoano Alfredo Gaspar, do União Brasil, perdeu o controle após uma brincadeira do colega de comissão Orlando Silva, do PC do B. Vejam o vídeo no YouTube. Ao interrogar uma diretora da CGU, Gaspar não a deixava passar da primeira frase. Pelo flagrante desrespeito à depoente, o relator foi repreendido pelo deputado Paulo Pimenta, do PT. E começou mais um bate-boca no circo.
No meio da discussão, ouve-se alguém se referir a Gaspar com a seguinte frase: “Calma, Betty, calma”. O parlamentar alagoano – cabra da peste cheio de macheza – parece ter tomado a expressão como ofensa à sua honra de cidadão de bem. “Calma, Betty, com quem?”, perguntou três vezes o relator, bastante exaltado a essa altura.
Ao ver o destempero do relator, Orlando Silva pergunta, também mais de uma vez: “Qual o seu problema?”. Depois da intervenção da presidência da CPI, a temperatura baixou. Silva explicou ao titular da relatoria que sua expressão não era ofensiva, era uma referência a uma música. Gaspar disse não conhecer a canção, mas ficou mais calmo.
Sim, a expressão usada pelo deputado da base está na letra da música Betty Frígida, megassucesso da banda Blitz no remoto ano de 1983. A Blitz – e Gaspar também não deve saber – está entre os grupos que revolucionaram a história do rock no Brasil. Naquele tempo, Gaspar era um adolescente, mas, pelo visto, curtia outro som.
Tirante a sessão de piadas, a confusão decorreu da postura do relator. Ele foi promotor de Justiça e secretário de segurança. Nessas funções estava no topo da cadeia de comando. Em interrogatórios, enquadrava qualquer um, do jeito que bem entendesse. No parlamento não é assim. Câmara e Senado não são delegacias de polícia.
Os convocados para falar à CPI não estão ali para levar escracho de xerifes que trabalham com uma pistola sobre a mesa. CPI tem regras que não podem ser atropeladas – como fazem valentões das polícias e demais órgãos de investigação. Devem seguir a lei. Porque o combate ao crime não autoriza ações autoritárias.
Vivemos numa democracia, apesar das tentativas de sabotagem de gente que Alfredo Gaspar e assemelhados tanto admiram e apoiam. Não dá para recorrer ao porrete em depoimentos de CPI. Em delegacias, também não, embora isso ainda aconteça.
No mais, a CPMI acena ao fiasco, como é previsível desde o começo. A oposição, tomada pelo bolsonarismo e pela extrema direita estridente, quer apenas politicagem. Detalhe, para fechar: por coincidência, era uma mulher o alvo das diatribes do relator.