O Congresso Nacional está decidido a achincalhar sua própria imagem. São tantos os exemplos de iniciativas nessa direção, que é até difícil selecionar o que há de mais deplorável no conjunto da obra. Há despropósitos para todos os lados, todos na defesa de interesses espúrios. A cada dia, uma nova investida está em pauta com objetivos nada republicanos. A turma perdeu qualquer noção de decência e decoro.

Olhando bem, dá para separar as propostas em andamento em dois grandes grupos. O primeiro atende a demandas eleitoreiras, um populismo rastaquera de olho na pescaria do incauto eleitorado. O segundo presta serviço à plutocracia que, por sua vez, financia boa parte desses políticos. Nesse caso, uma relação mediada pelo repasse de propina.

Exemplo do primeiro grupo são projetos na área da segurança. Boa parte do parlamento atua como se fosse uma delegacia de polícia. Castração química, prisão perpétua, criminalização do funk e outras presepadas engarrafam a fila de votações. Os autores dessas ideias vieram das forças policiais e do poderoso Ministério Público.

É a tal Bancada da Bala, hoje muito maior do que no passado. É nessa frente que estão os deputados alagoanos Alfredo Gaspar e Fábio Costa. Eles deixaram os cargos que exerciam nas polícias estaduais e no MP, mas continuam agindo como xerifes à caça de um alvo para mandar bala. A decadência do Legislativo tem tudo a ver com esse time.

No segundo grupo dos projetos com vícios de origem, digamos assim, estão, reitero, os que servem aos donos do dinheiro. Nesse conjunto estão iniciativas que, por exemplo, mexem em regras de controle ambiental e facilitam (ou dificultam) negócios de grandes empresas. Agora mesmo há uma jogada envolvendo o Banco de Brasília.

Na linha do mais bruto corporativismo, o Congresso debate a tal PEC da blindagem, uma excrescência que pretende nada menos que proteger criminosos com o manto da imunidade. Caso venha a prosperar, nenhum deputado ou senador responderá por seus eventuais crimes – a não ser com autorização dos próprios deputados ou senadores.

E, claro, chegamos ao esquema das emendas parlamentares, uma decorrência natural daquele orçamento secreto forjado ainda no governo Bolsonaro. É por isso que esses valorosos representantes do povo estão em pé de guerra com o ministro do STF Flávio Dino. Nunca foi tão depravado o sequestro do orçamento da União.

Para fechar, lembro que o atual Congresso é, em grande medida, resultado da “nova política”. Sob esse slogan demagógico, vigaristas e desqualificados aderem a ideias golpistas e passam a mão grande nos cofres públicos. Confiante que a eleição de 2026 vai reduzir o descalabro? Meu amigo, é bom se preparar. O horizonte é sombrio.