O homem público mais influente das últimas três décadas no Brasil está condenado a doze anos de prisão, pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Como todo mundo sabe, o Tribunal Regional Federal da 4ª Região confirmou a sentença do juiz Sérgio Moro. Avalia-se que, com o resultado do julgamento, o ex-presidente Lula pode ir para a cadeia em até dois meses. É o tempo previsto para o trâmite e o desfecho dos recursos que a defesa levará ao próprio TRF-4.  

 

Fala-se muito sobre o destino de Lula e as alternativas do PT para a eleição. Mas o assunto aqui são os três desembargadores que julgaram o ex-presidente. Tudo ali parece nebuloso, distante da realidade em que vivem os brasileiros comuns, aqueles que não desfrutam dos privilégios exclusivos para togados e similares. Pois o trio de marajás do Judiciário usou o julgamento para deitar lições de ética e probidade. Ainda bem que a Justiça no Brasil é exemplo de isenção e decência.

 

Como virou moda com a Lava Jato, basta o sujeito vestir uma toga para se considerar dono da verdade, acima de qualquer contestação. Se pudesse, a patota dos tribunais instalaria no país a República do Judiciário. Não por acaso, mais de uma vez, os desembargadores, e também o procurador da acusação, atacaram a política, detonando todos, de maneira geral. Querem substituir a vontade popular das urnas por suas ideias patrióticas em defesa do país. Mais comovente, impossível.

 

Durante a leitura de seus votos, os julgadores deixaram de lado os autos do processo e fizeram uma espécie de revisão crítica da trajetória de Lula na vida pública. Mais uma vez, predominaram o proselitismo político e a verborragia oca das frases de efeito. Quanto aos fatos, nada de prova cabal contra o réu. Tudo são indícios que apontam para uma “convergência” de suspeitas contra o homem a ser condenado. A esculhambação é tamanha que o resultado do julgamento foi antecipado.    

 

O conjunto da obra não deixa dúvida: os votos que condenaram Lula foram combinados no TRF-4. Tudo harmoniosamente apresentado em perfeita sintonia com a sentença do celerado juiz Moro. Não havia a menor chance de um veredito favorável ao ex-presidente. A decisão, é claro, fortalece ainda mais a sanha justiceira que excita figurinhas como aquele procurador das bochechas rosadas e óculos de aro fino – segundo seu próprio perfil de vendedor de palestras. Refiro-me, é óbvio, ao menudo Deltan Dallagnol.

 

Isso é que é Justiça séria, metendo poderosos da política na cadeia, numa mostra de lisura e independência de nossos magistrados. Me engana que eu gosto. Repito o que já escrevi neste espaço: quando alguma operação – uma irmã da Lava Jato, por exemplo – triscar corredores e gavetas do Judiciário, aí a gente vai debater. Como não acredito em nada sobrenatural, suspeito que tal expectativa é só um delírio. Até parece que estamos condenados, perpetuamente, a essa tranqueira que está aí.