Velhos problemas, nenhuma solução

20/12/2017 00:16 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

A vida pública e o mundo da política de vez em quando nos surpreendem, mas em regra as estripulias que vemos por aí, em boa parte, repetem velhas presepadas. Pensei nisso vendo o noticiário sobre a tal polêmica com os radares eletrônicos, também conhecidos como pardais, espalhados no trânsito de Maceió. Eis aí um tema que vai e volta – e não sai do lugar.

 

Em janeiro de 2005, ao tomar posse no primeiro mandato de prefeito da capital, a ação inaugural do eleito Cícero Almeida, hoje deputado federal, foi desativar os radares que haviam sido instalados na gestão de sua antecessora, a então prefeita Kátia Born. Bem ao seu estilo, Almeida subiu numa escada encostada num poste e, ele mesmo, desligou um dos equipamentos.

 

Era o “fim da indústria das multas”, anunciou o prefeito, repetindo uma das acusações que fizera à prefeita que saía, durante toda a campanha. Mais de uma década depois, aí está a Justiça determinando que a prefeitura desative os radares. Sobre a atual gestão do município, a mesma acusação de usar o serviço apenas para reforçar o cofre. É ou não é a mesma ladainha?

 

O mesmo ocorre com a chamada Zona Azul, a cobrança por estacionamento rotativo nas ruas de Maceió. Isso já vigorou – vejam só! – lá na primeira metade da década de 1990, ou seja, há mais de 20 anos. Pois no começo de 2017, a prefeitura anunciou a volta do serviço, como se fosse uma tremenda novidade. Em maio, suspendeu tudo por recomendação do Ministério Público de Contas.

 

Para não esticar muito a conversa, citarei mais dois exemplos de notícias que, embora tratem de assuntos de hoje, reproduzem na verdade pautas velhíssimas. Vejo na TV a imagem de juízes fazendo vistoria no presídio Baldomero Cavalcanti. Resultado: detentos denunciam condições precárias lá dentro e maus tratos. Quantas vezes vi isso na imprensa alagoana? Perdi a conta.  

 

Outra bomba que pauta nossos repórteres investigativos é a superlotação nas maternidades Santa Mônica e Hospital Universitário. As duas unidades não se entendem sobre o atendimento das gestantes com gravidez de alto risco. As autoridades, claro, prometem soluções imediatas. O primeiro passo é uma reunião de emergência. Depois, novas reuniões. E assim vai, até a próxima crise.

 

Se fizer um breve levantamento, você pode listar outros temas. Garanto que a relação será interminável. A gestão pública, como disse, é tão inesperada quanto previsível. Claro que a imprensa deve noticiar, afinal, os mesmos problemas se repetem de modo obsessivo. O inquietante é a naturalidade com a qual tratamos de problemas remotos como explosivas novidades.

 

Seja como for, é inescapável concluir que encrencas insolúveis atestam, a cada temporada, aqui e ali, a tremenda faixa de incompetência generalizada de nossos gestores. Por isso, e como não acredito em mágicas e milagres, nossa perspectiva definitivamente está longe de ser das melhores. Em alguns casos, diria até que estamos preparadíssimos para os próximos passos – todos para trás.

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