O Hospital Veredas está à beira do “colapso”, segundo consta de decisão da Justiça Federal que obriga o governo de Alagoas a repassar 2,7 milhões de reais para o pagamento de salário dos servidores. Como informa reportagem do CM, o negócio é tão feio que a mesma decisão proíbe que os recursos sejam usados para pagamento a empresas prestadoras de serviço da unidade. É que não há evidências de que os “serviços” tenham existido. Mas o tamanho do descalabro é muito maior do que isso.
Há mais de uma década, o antigo Hospital do Açúcar agoniza, vitimado por uma gestão caótica, sem transparência, dominada pela interferência política. No ano passado, o conselho da fundação que controla o Veredas afastou a diretoria-executiva após sucessivos sinais de gestão financeira temerária e contabilidade heterodoxa.
Como revelou reportagem da revista Piauí em 2023, o hospital esteve, durante vários anos, sob as ordens de aliados e parentes do deputado federal Arthur Lira. A partir de 2016, no governo Temer, abriu-se uma torneira de repasses de verba pública ao Veredas como nunca se viu. Até ministro da Saúde veio a Maceió anunciar liberação de recursos.
O dado mais impactante divulgado pela Piauí aparece logo no título da reportagem: “Hospital da turma de Arthur Lira recebeu 1 bilhão de reais em sete anos”. Para chegar a esse valor, a revista soma os repasses da prefeitura de Maceió, do governo do Estado e do governo federal. Uma busca no Google encontra a matéria sem dificuldade.
Não terá sido por falta de dinheiro público que o hospital teria chegado à iminência de colapsar. A fortuna bilionária irrigou os cofres da unidade filantrópica, mas ainda assim a bagunça contábil não arrefeceu. Uma das esquisitices está em pagamentos milionários a escritórios de advocacia chefiados por gente de peso em Alagoas e na República.
Dias Toffoli. O Veredas tem uma coleção de disputas judiciais. Numa dessas, a advogada que representou o hospital foi Roberta Maria Rangel, mulher do ministro do STF Dias Toffoli. Quanto será que seu escritório recebeu de honorários? Ela respondeu à Piauí o seguinte: “Os dados devem ser preservados por imposição contratual e legal”.
Vale a pena ler a ampla reportagem da revista em parceria com a Agência Pública. Além de um exemplo de jornalismo, expõe um retrato devastador das ligações indevidas entre agentes públicos, interesses privados e apadrinhamento político. Um desastre completo cujas maiores vítimas são servidores e todos os que precisam do hospital.
Para encerrar, só mais um trecho revelador da matéria: “O Hospital Veredas é uma caixa-preta que muitos órgãos fiscalizadores não fazem questão de abrir, e outros, quando tentam, não conseguem”. Uma apuração do Ministério Público Federal aberta em 2020 não deu em nada. Talvez fosse a hora de o MPF tentar mais uma vez.