Por que Rodrigo Janot ainda está aí?

12/09/2017 02:30 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

Em passeio a bordo de viaturas policiais, o delator-delinquente Joesley Batista leva em mãos um terço. Corre o risco de ser acusado de “apropriação cultural” pelos crentes mais engajados. (Entre os militantes por um mundo melhor, esse tipo de acusação está na moda, como se noticia quase diariamente). Acreditar na fé do açougueiro é como acreditar na lisura das ações de seu parceiro de delação, o ainda procurador-geral da República, Rodrigo Janot.

O suspeito chefe do Ministério Público Federal vai agindo como se nada de anormal tivesse sido escancarado em sua conduta. Os fatos mostram o contrário. As últimas palavras e gestos de Janot contrariam tudo o que ele disse e escreveu ao longo de meses, desde que decidiu agir como se fosse a primeira e definitiva voz da vida pública nacional.

Diante da desmoralização do grande acordo entre a PGR e a quadrilha de Joesley, Janot já deveria ter sido afastado das funções. Afinal, se a Lava Jato é a frente mais importante nas investigações para se combater a corrupção no país, o que faz aí uma figura hoje destituída de mínima credibilidade para acusar quem quer que seja?

As prisões dos criminosos da JBS agravaram ainda mais a situação do procurador. Joesley e seu cúmplice Ricardo Saud dizem agora haver mais gravações, com outras autoridades, e que eles não entregaram ao fechar o acordo com Janot. A confissão prova que desde o princípio nunca houve motivações honestas na disposição de denunciar políticos corruptos. É lógico, e também legítimo, deduzir que toda a operação configura um plano criminoso. E Janot brinca em tentar nos convencer de sua inocência. Foi traído na sua boa-fé. Conta outra!

Dia sim, dia também, integrantes do Ministério Público denunciam perigosíssimas ameaças à instituição. É a mesma histeria dos que reclamam de suposta perseguição ao Poder Judiciário. Isso não se dá aleatoriamente. É uma premeditada estratégia – simultaneamente de defesa e de ataque – para garantir impunidade por abusos generalizados em mais de uma investigação.

Nunca é demais ressaltar: Marcelo Miller, o procurador que era o “braço direito” de Janot, agia – e isso está evidenciado – como um agente duplo. O homem trabalhava para a Procuradoria Geral da República e para os açougueiros da JBS. Tudo junto e promiscuamente misturado.

A verdade é que o caso PGR-JBS é indefensável. O milagre de Janot continuar no cargo seria inexplicável, não fosse por uma constatação: temos autoridades de rabo preso e instituições fragilizadas. Quando todo mundo está com medo, as decisões, ainda que urgentemente necessárias, vão sendo adiadas para quando der; às vezes, para nunca.

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