Nunca houve um procurador-geral da República como Rodrigo Janot. O chefe do Ministério Público Federal até tenta demonstrar tranquilidade, mas a verdade é que vai saindo do cargo de forma melancólica. Em entrevista coletiva na noite desta segunda-feira 04/09, foi obrigado pelos fatos a reconhecer as mazelas do acordo patrocinado por ele mesmo com os bandoleiros irmãos Batista, os tais donos da JBS. 

Sem alternativa, o homem da metáfora flecha & bambu disparou sua arma contra o próprio pé, ao admitir que seu então braço direito na PGR, o ex-procurador Marcelo Miller, fazia jogo duplo: trabalhava ao mesmo tempo para o MPF e para os delatores no coração do açougue da bandidagem.

Os brasileiros ficaram estarrecidos desde o começo dessa história, quando, após o arranjo com a PGR, a dupla de irmãos Joesley e Wesley, depois de confessar uma lista interminável de crimes, ganhou em recompensa a liberdade plena e a impunidade completa. Roubaram como quiseram e foram passear pelos Estados Unidos e Europa.

O engraçado é que a grande imprensa deu todas as páginas e holofotes para Joesley acusar todo mundo de marginal. Como esquecer: na capa da revista Época, como se fosse a alma mais limpa do país, o elemento chegou a fazer o ranking da corrupção, apontando o número um, o número dois, e por aí adiante. A dupla de açougueiros era, então, a voz da santidade, a queridinha de Janot e do MPF. 

O que já se ouviu das novas gravações, agora reveladas, desmoraliza tudo isso por completo. Desmoraliza, em primeiríssimo lugar, o procurador-geral da República. A poucos dias de deixar o cargo, o ex-dono da verdade não tem moral para denunciar mais nada nem ninguém. Como disse no começo, um caso único em nossa história.