Você provavelmente já esteve a ponto de, mesmo no sufoco do salário apertado, gastar as economias em seminários, cursos ou palestras que prometem o milagre da realização profissional. Todo dia, alguns anúncios de badalados eventos apresentam a lista de executivos que têm a receita para o empreendedorismo mais-que-perfeito. A peso de ouro, medalhões que dirigem grandes e afamadas empresas falam para auditórios abarrotados e sedentos por segredos do megassucesso rápido, seguro e infalível.

 

Faz sentido. Se a empresa ocupa o topo em seu segmento, obtém lucros infinitos e espalha negócios pelo Brasil inteiro, e até ao redor do mundo, é claro que seus executivos, gestores e marqueteiros sabem tudo sobre administração. Nada mais natural que você pague o que tem (e o que não tem) para aprender a mudar de vida com esses gurus do mercado, da economia e do conhecimento.

 

Pensando bem, a coisa não faz tanto sentido assim. Basta olhar para os exemplos que se encontram a cada esquina da atual tragédia brasileira. Nossos empresários mais estrelados foram parar na cadeia, acusados de métodos de trabalho que passam longe dos livros de gestão; ao invés disso, suas estratégias para produzir lucro e crescimento estão todas previstas no Código Penal.

 

Enquanto posam de empreendedores competentes e visionários, os senhores da engrenagem da fortuna praticam um capitalismo à base de tráfico de influência, fraudes na qualidade dos produtos, sonegação de impostos, concorrência desleal e – o elixir mágico da receita – pagamento de propina.

 

O noticiário não deixa um miligrama de dúvida. Os gigantes nacionais, e também um bom número de multinacionais, instituíram a corrupção como ferramenta indispensável no sistema oficial de gerenciamento dos negócios. É o oxigênio de todas as jogadas.  

 

É assim, portanto, que as grandes corporações vencem disputas no mercado, fecham contratos com a esfera pública e bancam fusões bilionárias. No organograma da megaempresa, tem todo tipo de firula, mas o coração do esquema é um só e atende pelo autoexplicativo nome de Departamento de Propina. Quanto ao valor da meritocracia e da persistência, os gurus deixam essa brincadeira para o show de ilusionismo de auditório.

 

Por isso tudo, quando estiver tentado a desperdiçar sua grana em palestras de subcelebridades que exaltam os méritos de uma grande marca, vamos combinar: seja mais prudente.