“Mãe é mãe, paca é paca...” A Mulher na Reforma Trabalhista
Adamastor, garboso machista contemporâneo, faz piada para o mais seleto público do boteco da esquina:
- Não há nada nessa vida que eu goste mais do que mulher. Carro, cachaça, baralho, bilhar não chegam nem perto. Afinal de contas, é com elas que gasto todo meu dinheiro.
A misoginia de Adamastor não ganha coro apenas junto aos ébrios. Mesmo no final da segunda década do século XXI a mulher continua aos tropeços na busca de oportunidades iguais em uma sociedade ainda tão machista. Sua participação no mercado de trabalho é apenas um desses tantos cenários de disparidade tão opressores, mas ao mesmo tempo tão velados.
Obviamente, a participação da mulher no mercado laboral cresceu nos últimos anos, mas a remuneração média desse público permanece inferior à do masculino. Existe uma reserva de atividades para homens e, na grande maioria dos casos, a inclusão da mulher se restringe a empregos menos valorizados, principalmente na prestação de serviços.
E daí? Adamastor continua rindo disso tudo. Aliás, fico pensando nele se sentindo ainda mais hilário na reforma trabalhista. Imaginem Adamastor sendo o “taradão do serviço”, falando e fazendo gracinha para todas... Afinal de contas, “mãe é mãe, paca é paca e mulher é tudo vaca”.
Agora mesmo, enquanto você lê esse blog, nossas senadoras e senadores discutem uma “reforma” (sic) trabalhista na qual um processo de assédio moral/sexual, se constatado e provado na Justiça do Trabalho, terá limitador de indenização extremamente discriminatório.
Isso quer dizer que, se as senadoras e os senadores aprovarem o que as deputadas e deputados já aprovaram, vai ficar mais barato assediar a “gostosona” que ganha menos, uma vez que o que passará a valer na hora de estabelecer a indenização é um limite, um teto, fixado pelo salário ganho pela própria empregada.
Então, engenheiras, advogadas, arquitetas, dentistas etc. fiquem despreocupadas, nossos(as) congressistas vão “reformar” (sic) a legislação para que vocês sejam preteridas pelos infindáveis Adamastores que “tanto gostam de mulher”.
- Só vai dar secretária e empregada doméstica.
Mulheres esclarecidas, celebremos juntos a lógica utilitarista das reformas que tanto privilegiarão vocês.
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