Olá, pensadores!
Depois que um papa falece, os cardeais se reúnem, enclausurados, em conclave, de onde somente saem quando o novo sumo pontífice é escolhido. Há um ritual absurdamente solene e, enquanto o nome da nova suprema santidade não é alcançado, a chaminé da basílica papal exala fumaça preta, fruto da queima das cédulas dos diversos escrutíneos a que são submetidos os eleitores do sucessor de Pedro.
O mundo católico, literalmente pára! Contudo, quando os votantes chegam a um consenso, ainda que por maioria, a fumaça que sobe da chaminé muda de cor... É branca! E, em latim, os autofalantes da praça de São Pedro proclamam: "habemos papam!", ou seja, "temos papa!".
A importância da eleição de um papa, para a igreja católica, é indiscutível. Embora não tão aparente, a disputa à cadeira papal envolve interesses bem maiores que os "espirituais" e a suposta vontade de Deus. Não se pode esquecer, por exemplo, o patrimônio afeto à Igreja Católica, os recursos advindos dos dízimos e doaçoes dos fiéis, o poder de influência comportamental da igreja e, claro, o poder político entregue ao sumo pontífice, uma vez que este exerce o cargo de chefe de Estado, liderando politicamente o Vaticano. Os interesses em jogo é que tornam a eleição para o novo papa algo tão significativo.
Com o resultado final da eleição da OAB/AL, devido à particular e inédita disputa que os candidatos à cadeira de presidente da instituição protagonizaram, os sites de notícias, tais quais os autofalantes da praça São Pedro, passaram a proclamar: "habemus papa!"! A campanha, repleta de denúnicas, suspeitas de arapongagem da pior espécie, revelações de esquemas de corrupção e, salvo raras exceções, demonstração de abuso de poder econômico, com comitês à beira mar e verdadeiras festas com comida e bebida de graça, deixou no ar questões, no mínimo, curiosas: qual o real interesse por trás da direção da OAB? Quem vai se beneficiar e com o quê? Será apenas entusiamo? Orgulho? Influência? Poder? Dinheiro? O que, afinal?
Todos sabemos que a OAB, enquanto conselho profissional especial, tem posição de destaque dado pela Constituição Federal, mesmo porque se trata de organização indispensável à consecução da justiça. Todavia, as condições especiais dispensadas à OAB, como por exemplo, seu poder de representatividade, sua legitimidade para propor ações de caráter público etc, as prerrogativas garantidas aos advogados, privilégios estes concedidos em prol da sociedade e, claro, visando assegurar o pleno exercício das funções pelos profissionais integrantes da categoria, não justificam o comportamento reprovável dos pleiteantes que se viu nesta campanha.
Excetuadas raríssimas posições, colegas de profissão deram um show de deslealdade, deselegância e de desrespeito uns para com os outros. Ofenderam-se mutuamente, incitaram comportamentos desaconselháveis, transvestidos em palavras de ordem ou em frases bairristas pseudo éticas. Na tentativa de construírem argumentos que justificassem seu merecimento à ocupação do posto de líder dos advogados, expuseram, de uma forma jamais vista, uma ganância e uma sede injustificável pelo "poder".
Findo o pleito, o que sobrou da OAB/AL? O que restou dos nobres causídicos do estado de Alagoas? Uma atual gestão enlameada, envolvida num esquema podre de corrupção; uma classe profissional abolutamente rachada, fragilizada em sua imagem e com o sentimento de orfandade, já que a maioria dos advogados não queria o presidente que foi eleito; e a sensação de que alguém vai se beneficiar com o resultado desta eleição, ainda que isso não se consume.
Para a chapa vencedora, como dito acima, talvez haja um interesse que será satisfeito com sua vitória. Com perdão do trocadilho, que este interesse tenha um "bom fim". Mas, para a sociedade, se esta eleição serviu para alguma coisa, foi para destruir a credibilidade que a OAB goazava perante a opinião pública, credibilidade esta que, estou certo, levará tempo para ser reconquistada.