Porque a violência aumenta? Eis aqui um exemplo bem prático.

Estive neste final de semana em dois locais distintos: na orla marítima de Maceió, apreciando o famoso bloco do Pinto da Madrugada, e no Tabuleiro dos Martins, mais precisamente no Conjunto Osman Loureiro, onde participei do bloco Coco Mania.

Vamos analisar as diferenças?

Pinto da Madrugada: belíssimo, como sempre - aqui abro parênteses (-) para parabenizar os organizadores Braga Lira, Marcos Davi, dentre outros -  e a cada ano que passa se consolida como o melhor e maior evento carnavalesco da nossa cidade, levando, este ano, mais de 150 mil pessoas, segundo cálculos da nossa briosa Polícia Militar, que se fez presente no evento com um grande contingente, atendendo, assim, a demanda de segurança da comunidade da orla.

Coco Mania: linda festa da região periférica da cidade, muito bem organizada – mais "dois parênteses" para abraçar cada membro responsável pela produção – que arrastou cerca de três mil pessoas para uma alegria contagiante, levantando poeira ao som de muita ‘swingueira’.

O que estes eventos têm em comum?

A mesma dedicação e seriedade nos trâmites necessários para legalizar cada uma das atividades momescas, que incluem a autorização da SMCCU, Ministério Público Estadual e Policia Militar entre inúmeras outras providências, por certo.

E no que eles diferem?

Eis a resposta: o respeito (ou a falta dele) por parte das autoridades.

Posso até ser interpretado como radical – meu sentimento e de indignação - devido a esta colocação, mas a verdade é que: no bloco do Tabuleiro dos Martins a Polícia Militar sequer deu as caras. Mais de três mil pessoas saíram ontem acompanhando o bloco sem a presença de nenhum policial, nem mesmo dos que fazem parte da Base de Policiamento Comunitário do local que, por sinal, existe só em estrutura física.

E aí já se pode imaginar o que aconteceu, né?

Os organizadores tiveram que encerrar o evento antes mesmo do previsto, devido à falta de segurança pública. Isto mesmo: não apareceu sequer um policial para retribuir o que nós pagamos de impostos que, em síntese, é o que paga seu salário.

O descaso com que é tratado o povo dos bairros pobres da nossa cidade faz com que achemos que vivemos em duas “Maceiós”: a dos ricos e a dos desassistidos.

Uma espécie de “novo apartheid*”.

Parabéns às autoridades! Continuem ignorando a periferia e contribuindo, assim, para o aumento da violência, que agora mais do que nunca deixa claramente explícita a razão pela qual cresce, cada dia mais: o descaso, a negligência e o abandono a quem já sente a exclusão na pele.

Por fim, parabéns a nós, pelo terceiro lugar em violência no mundo e o primeiro no país.

Inglória constatação.

*O apartheid foi um regime implantado pela África do Sul, antes do partido Congresso Nacional Africano (Mandela, era o líder), o CNA, vencer as eleições, que separava e segregava brancos e negros. Esta segregação reservava as melhores condições – na saúde, transporte, educação, emprego e renda - para a minoria branca em detrimento da maioria negra que, por sua vez, viviam sempre em condições piores que os brancos.