Virou rotina. Abre-se o celular e lá está mais uma pesquisa. Troca-se o horário, surge outra. Os levantamentos eleitorais passaram a circular com a frequência de comunicados oficiais, ainda que tratem, em grande parte, de uma eleição que só ocorrerá em 2026.

Convém lembrar: 2026 ainda está batendo a porta. O cenário institucional não está fechado, alianças seguem fluidas, candidaturas não estão consolidadas e o eleitor médio, fora das bolhas políticas, mal começou a organizar suas prioridades. 

Pesquisa é instrumento técnico. Quando realizada por institutos consolidados, com histórico, metodologia clara, amostragem consistente e divulgação responsável, cumpre um papel legítimo. O problema é que esse ambiente também passou a ser ocupado por estruturas ocasionais, de atuação intermitente, que surgem justamente quando o calendário político começa a aquecer, e desaparecem com a mesma rapidez quando o interesse esfria.

Nesse contexto, a pesquisa deixa de ser apenas leitura de cenário e passa a funcionar como peça de posicionamento político. Não mede apenas intenção de voto; emite sinais. Serve para ocupar espaço, criar percepções, estabelecer hierarquias simbólicas e, sobretudo, antecipar disputas.

Quando fevereiro chegar, a memória coletiva fará seu trabalho habitual. Lideranças hoje superexpostas sentirão falta do entusiasmo precoce. Outras descobrirão que números antecipados não garantem voto, nem estrutura, nem discurso. A política brasileira tem histórico suficiente para ensinar que liderança fora de tempo cobra juros altos.

No fim, permanece a pergunta essencial: essas pesquisas estão informando o debate público ou apenas ocupando espaço nele? Estão ajudando o eleitor a compreender o processo ou induzindo leituras apressadas sobre um futuro ainda indefinido?

A resposta não está nos relatórios. Está no calendário. E o calendário, diferentemente das pesquisas, não aceita atalhos.