Na TV, propaganda do União Brasil com o governador de Goiás, Ronaldo Caiado. O discurso “inovador” do justiceiro do Centro-Oeste é assim: “Aqui, bandido não se cria”. Ai, ai, que desalento! Quando será que ouvi isso, aqui em Alagoas, pela primeira vez? Certamente nos anos 70 do século passado. É a carcomida filosofia do coronel Amaral – que os mais jovens não devem saber de quem se trata. Não saímos do lugar.
“Ninguém aguenta mais tanta violência. O cidadão de bem preso em casa, e os bandidos barbarizando livremente”. Quem disse isso? Fica a sua escolha. De Caiado a Alfredo Gaspar, de Sergio Moro a Tarcísio de Freitas, de Fábio Costa a Ratinho Junior, de Kassab a Valdemar. Etc. Tanto faz. Mudam os mequetrefes, repete-se a demagogia vagabunda.
Insuflar o pânico na sociedade é tática política desde que o mundo é mundo. Planta-se o terror para vender soluções tão mágicas quanto falaciosas. Passa o tempo, mudam-se governos e oposição, e novos farsantes atualizam o populismo arruaceiro.
A loucura disso tudo é que, na política partidária, delegados, promotores, juízes e outros “especialistas” com mandato eletivo repetem a mesma receita. “É polícia na rua pra cima dos marginais”. Tradução na vida real: extermínio de pretos e pobres nas quebradas.
Aqui pelas bandas alagoenses, os grandes “planos de segurança” sempre se limitaram a invadir favelas, enfiar o coturno nos barracos e metralhar a esmo. Em alguns casos, as operações ocorriam na madrugada, até com helicópteros. Serviço de “inteligência”.
O tema da segurança tem apelo fácil e imediato. Daí porque a eleição de tantos picaretas travestidos de xerifões. A histeria espalhada com método acaba arrastando todo mundo para ideias comprovadamente inúteis. Quem tenta trabalhar com estatística, lógica e racionalidade, acaba sendo alvo de arrivistas que fazem política com a pistola.
Um dia desses vi uma propaganda do governo estadual nessa área. Salvo engano, aquela frase sobre o bandido que aqui não se cria aparece na peça. Não lembro se literalmente, mas o sentido é o mesmo. O governo federal lançou uma campanha sobre “a maior operação contra o crime organizado”. É um pouco mais sofisticada, mas nem tanto.
Fico aqui pensando na turma do marketing político. Os caras são todos modernosos, ainda mais depois do advento do metaverso e da revolução digital. Televisão? Os avançadinhos têm até nojo dessas coisas medievais. Aí você vai ver as sacadas geniais na propaganda: é “soco na mesa”, é “pulso firme”, é “bandido na cadeia”. E vai por aí.
Como diz o também avançado jornalismo, feito por gente plugada ao mundo lá fora, com poliglotas e craques em todas as plataformas: “Os bandidos estão cada vez mais ousados”!!! É por isso que Caiado e tantos da mesma laia estão aí há séculos, mandando bala pra todos os lados. Menos nas “áreas nobres”, onde vive o cidadão de bem.