De um lado, a farra das emendas parlamentares sem controle, sem fiscalização, usadas para comprar votos por esse Brasil afora. Em outra frente, a bancada dos bandoleiros a serviço de Bolsonaro e sua gangue de golpistas. Para ficarmos apenas com o recorte deste ano, o Congresso Nacional trabalhou exclusivamente em nome dessas duas causas. Qualquer tema começa e termina no mesmo buraco sem fundo.

Pode ser um debate sobre isenção do Importo de Renda ou um projeto para regular as empresas de apostas e seus tigrinhos. Logo adiante, deputados e senadores se estapeiam por divergências quanto a regras para uso do Pix. No dia seguinte, o bate-boca é numa das comissões, durante audiência com algum ministro do governo federal.

Seja lá qual for a origem de uma nova discussão, não tenhamos dúvidas, o que está em jogo mesmo é a irrigação do bolso de Suas Excelências ou os interesses do blocão bolsonarista. Nada sai do lugar, nada vai adiante que não seja para contemplar essas duas demandas. Os representantes do povo representam a bandalheira.

Não pense que tal comportamento é algo isolado, restrito a duas ou três jogadas espúrias. Nada disso. É a regra geral de todo santo dia em que existe alguma coisa parecida com trabalho na Câmara e no Senado. Mudança no Código Penal e propostas sobre o meio ambiente ou a aviação civil? Tudo se submete àquelas duas variáveis.

Mais uma CPI, desta vez para “investigar” o roubo de aposentadorias no INSS? É tiro e queda: querem achacar o governo e, ao mesmo tempo, produzir boas notícias à quadrilha bolsonarista. A derrubada de vetos presidenciais obedece rigorosamente aos mesmos objetivos. Grana e voto são o combustível dos patriotas.

E finalmente, no descaramento elevado ao paroxismo, existem as pautas sem disfarce. É o caso do PL da anistia e da PEC da bandidagem. Aqui, deputados e senadores convocam entrevistas coletivas para assumir que, sim, é isso mesmo o que queremos, e daí? É quando não há mais decoro nem temor diante do achincalhado povo brasileiro.

Por que chegamos a este nível de degradação, aí é desafio para teses e tratados. Ou não. Estamos vendo tão somente o retrato fiel de um pântano moral cuja essência sempre foi assim. A nova política, é claro, confirma e amplia o lixão parlamentar.