Ciro Gomes e Aldo Rebelo. Você pode chamar de esquerda ou de centro-esquerda. Pode ainda recorrer a uma classificação mais abrangente, talvez, classificando a dupla como parte do campo progressista. E finalmente é possível aplicar uma régua ainda mais flexível e definir os dois como alinhados aos paradigmas democráticos. Como em toda avaliação política, será preciso verificar as ideias e a atuação prática dos atores.
Numa mesma semana, passei por duas entrevistas nas quais os personagens acima se misturam de maneira reveladora. A primeira foi com Valdemar da Costa Neto, presidente nacional do PL. A outra foi com o próprio Aldo Rebelo, ex-deputado e ex-ministro nos governos Lula e Dilma. Em pauta, anistia a golpistas e eleição 2026.
Na Jovem Pan, Valdemar foi mais Costa Neto do que nunca. Defendeu um liberou geral para os condenados pela trama golpista. Mas deixou a janela escancarada para o futuro sem Bolsonaro. De olho em 2026, declarou aliança fechada com Ciro Gomes: “O Ciro briga até com a sombra, tenho três processos contra ele, mas no Ceará ele derrota o PT”.
Na Rádio Bandeirantes, Aldo Rebelo fez tabelinha com Cláudio Humberto num entrosamento de assombrar antigos companheiros comunistas. CH levanta a bola na medida, e Aldo sobe sem bloqueio, numa cortada indefensável. Em todos os lances, uma firme defesa de Jair Bolsonaro, tratado como um homem injustiçado. Doideira!
Ciro Gomes, também ele ex-ministro de Lula, hoje em dia finge que “combate a polarização”, mas tem como único alvo a figura do presidente. Em cada frase, não consegue disfarçar a agonia do ressentimento em relação ao petista. Como se diz, o cara espuma de tanta raiva. Deve ser terrível conviver com tal sentimento. Resta o quê?
Restou se abufelar com o que há de mais reacionário nas terras de Iracema. Ele faz peregrinação por espaços de entrevista dominados por bolsonaristas e repete a cantilena do atraso: é o fim do mundo no Brasil, e para salvar isso daí, ele se abraça com Valdemar e o PL cearense. Cumpre um roteiro de dar dó. Que destino cruel!
Aldo Rebelo, o bolchevique exorcizado, reclama do centrão e do STF. Tramaram um complô para evitar “a volta de um importante ator ao jogo eleitoral”. Ele lamenta que “o principal nome do campo conservador” esteja fora das urnas no ano que vem.
Tá de brincadeira! A exclamação vale para os dois. Ciro vai completar 68 anos em novembro. Rebelo está com 69. São rigorosamente da mesma geração. Com trajetórias distintas ao longo de décadas, perderam o rumo e, no ocaso, escolhem a desonra. Por aí.