O Brasil vive um novo ciclo de investimentos em infraestrutura: rodovias, saneamento, hospitais e projetos de mobilidade urbana estão no centro da agenda. Esses investimentos são fundamentais para a qualidade de vida da população e para a competitividade regional. Mas surge a pergunta central: como garantir que cada real aplicado nessas obras públicas se traduza, de fato, em benefício concreto para o cidadão?
É aqui que entra o conceito de accountability, pois a responsabilidade de governos em prestar contas com transparência, eficiência e resultados não deveria sobre qualquer tipo de limitação. Quando falamos de obras públicas, accountability significa acompanhar não apenas a inauguração ou o anúncio, mas todo o ciclo: custo inicial x custo final, prazos cumpridos ou estourados, qualidade da execução e impacto social gerado. O acompanhamento do uso dos recursos públicos precisa ser cada vez mais digital e acessível a todos.
Infelizmente, o que vemos muitas vezes são portais de obras incompletos, dados de difícil acesso e informações fragmentadas. Portugal, Chile e até mesmo algumas cidades brasileiras já adotam dashboards em tempo real, que permitem ao cidadão acompanhar cada etapa de uma obra. No Brasil, ainda precisamos transformar esse modelo em padrão.
O desafio, contudo, não é apenas técnico. É também cultural e institucional. A teoria da lanterna explica bem: só enxergamos aquilo que iluminamos. No controle das obras públicas, muitas vezes a luz está focada apenas na licitação ou na inauguração, deixando na sombra etapas cruciais como a execução, a fiscalização de aditivos e a manutenção pós-entrega. Se não ampliarmos esse campo de visão, continuaremos a ver obras mal feitas, atrasadas ou superfaturadas.
E os impactos disso são diretos no dia a dia da população: um hospital atrasado significa filas maiores na saúde; uma drenagem mal executada aumenta os alagamentos nas cidades; uma rodovia de má qualidade eleva o custo do transporte e reduz a competitividade do agronegócio e da indústria regional. Os recursos orçamentários são escassos e o desenvolvimento dos mecanismos de transparência serao um forte incentivo à melhora da eficiênci.
Por isso, é essencial que a accountability seja vista não como burocracia, mas como política pública estratégica. CGU, tribunais de contas e controladorias locais têm papel fundamental, mas é a sociedade, a imprensa e os cidadãos que precisam exigir clareza, resultados e responsabilidade. O controle social é sempre mais efetivo no longo prazo pela possibilidade de desenvolver uma mudança de cultura.
Cada real aplicado em infraestrutura vem do bolso do contribuinte. Garantir que esse recurso se transforme em obras de qualidade não é apenas um dever democrático, mas também a única forma de consolidar a confiança da população nas instituições e nos gestores.
George Santoro