Cartaz da Segunda Guerra Mundial

Em tempos de crescente demanda por eficiência, transparência e resultados concretos, a gestão pública não pode mais se contentar apenas com boas intenções, projetos vistosos ou uma performance fiscal tecnicamente correta. Embora esses elementos sejam relevantes, isoladamente não garantem entregas que transformem realidades. 

A chave para resultados efetivos está na gestão 360°, uma abordagem que exige visão sistêmica, integração entre áreas e clareza de propósitos, aliada a uma execução disciplinada e alinhada às prioridades estratégicas.

Essa perspectiva 360° significa, na prática, que todos os pontos da organização pública – do planejamento à execução, da alta gestão às rotinas operacionais – devem estar conectados, em um ciclo contínuo de análise, decisão e melhoria. Governos que se perdem em boas ideias não implementadas ou em um excesso de processos desconectados da realidade acabam se distanciando da população que deveriam servir.

Um dos grandes gargalos da gestão pública está justamente na priorização das rotinas de trabalho. É comum vermos estruturas sobrecarregadas com tarefas repetitivas, metas difusas e decisões que consomem energia demais com temas de pouco impacto. Sem uma estratégia clara e sem mecanismos que estabeleçam o que realmente importa, o risco de desperdício de recursos – inclusive humanos – é alto.

A Prefeitura de Medelin usou uma abordagem 360° ao integrar áreas como educação, mobilidade, segurança e urbanismo dentro de plano estratégico focado, priorizando o impacto social, usando dados e participação cidadã para realinhar prioridades. Tony Blair, nos anos 2000, criou a “Delivery Unit” uma espécie de equipe autogerenciada que monitorava metas prioritárias (educação, saúde, segurança) de forma centralizada, com avaliação contínua, diálogo entre ministérios e foco em impacto real — um claro exemplo de gestão pública 360° com base em dados e foco em entrega.

Nesse ponto, a aplicação do Princípio de Pareto, ou regra 80/20, pode ser transformadora. Essa ferramenta de gestão nos ensina que 80% dos resultados geralmente vêm de 20% dos esforços, e isso vale tanto para políticas públicas quanto para o dia a dia da administração. Saber identificar quais são os 20% das ações que geram maior impacto é o que separa uma gestão eficaz de uma que apenas ocupa tempo e orçamento.

Não adianta, por exemplo, a Procuradoria de um ente público cuidar adequadamente de suas rotinas de trabalho e de milhares de processos judiciais se não cuidar com diligência absoluta e com os melhores da equipe as 10 ações judiciais com maior impacto financeiro.

É preciso usar dados, indicadores e escuta ativa para encontrar esses focos de impacto. Em áreas como saúde, educação e infraestrutura, por exemplo, decidir onde alocar recursos com base em critérios objetivos pode salvar vidas, melhorar trajetórias escolares e destravar economias locais. A boa gestão pública é, antes de tudo, a arte de dizer “não” com responsabilidade, para poder dizer “sim” com coragem e direção.

Como já alertava Winston Churchill durante a Segunda Guerra Mundial, “nunca tantos deveram tanto a tão poucos”. A frase, originalmente usada para homenagear a Força Aérea Britânica, serve perfeitamente como metáfora para o setor público contemporâneo. Em muitos casos, o resultado de políticas públicas – e até a imagem de governos inteiros – depende do esforço coordenado e inteligente de poucas pessoas e de poucas decisões bem tomadas. Esse é um chamado à profissionalização da gestão, à valorização das lideranças públicas e ao investimento em métodos de decisão baseados em evidências e prioridades.

Adotar a gestão 360° é mais do que modernizar processos. É reconhecer que sem estratégia, até os recursos bem aplicados podem gerar pouco resultado; e sem foco, mesmo as melhores intenções perdem força. É tempo de governos que pensem como um todo, ajam com inteligência e executem com coragem.

George Santoro