Durante o julgamento do núcleo crucial da trama golpista, o ministro Alexandre de Moraes (mas não apenas ele) lembrou que para os condenados não cabem indulto presidencial, anistia via Congresso ou perdão por parte do Judiciário. O relator da ação penal citou a Constituição e a jurisprudência do próprio STF. O caso mais recente é do ex-deputado Daniel Silveira cujo indulto foi anulado pelo Supremo.

Mas e daí? Para a tropa de celerados do bolsonarismo na Câmara dos Deputados, dane-se a lei. Os líderes do baixo clero insistem nas articulações e na pressão para votar um projeto de anistia geral. A direita raivosa defende liberar todo mundo, incluindo o ex-presidente sentenciado a 27 anos e três meses de prisão. Tem alguma chance?

Bom, se está escrito na Constituição que não vale, então não pode passar. O blocão no Congresso não desiste porque acredita que tem votos suficientes para aprovar um Projeto de Lei nesse sentido. Horas depois do fim do julgamento, havia bolsonaristas dizendo que, veja só, “uma anistia deve inclusive contemplar os julgadores de hoje”.

Sim, isso mesmo, os “julgadores de hoje” seriam os ministros do Supremo que condenaram Bolsonaro e quatro militares no topo da carreira. Não sei se isso é para levar a sério ou para tratar como mais uma piada involuntária desses patriotas.

Seja como for, a extrema direita não vai desistir dessa fantasia delinquente. Como não aceita as regras do jogo, a turma segue o padrão Augusto Heleno para virar a mesa. A insistência na presepada fora da lei conta com o perfil leniente do deputado Hugo Motta, o presidente da Câmara. Até agora, ele parece sitiado e sem muita moral.

A escória do parlamento faz barulho, mas não é assim essa moleza avançar com o trambique legislativo. Primeiro, não existe sequer um texto fechado para debate. Depois, tem uma dose de blefe na “garantia” de que há votos para aprovar a safadeza. Além disso, a ideia enfrenta uma tremenda barreira no Senado, um ambiente mais asseado.

E finalmente qualquer proposta com esse objetivo será fulminada no STF. Para reiterar o óbvio, a marmota é inconstitucional. Assim, a consequência incontornável de uma anistia aprovada no Congresso será uma nova crise entre os poderes. Como se constata na atual quadra, não contem com um Supremo omisso e muito menos acovardado. Por aí.