Durante as 14 horas de seu voto em defesa de Bolsonaro e comparsas na trama golpista, o ministro Luiz Fux disse várias vezes que o Supremo não é lugar para julgamentos políticos. Deve-se decidir de acordo com as provas reunidas no processo. Lembrou a máxima segundo a qual “o que não está nos autos não está no mundo”. Insistiu nessa tecla para, ao que parece, levantar suspeitas sobre os colegas da Primeira Turma.  

Muito bem. Logo após a ministra Carmen Lúcia dar o voto que formou maioria para condenar o ex-presidente, Valdemar Costa Neto estava na CNN Brasil com esta conversa: Três amigos meus me ligaram, do Rio de Janeiro, e disseram ‘olha, o Fux, se for candidato aqui, estoura’. Ele vai se aposentar daqui a uns dois anos, e pode ser senador. Mas não sei se ele tem interesse”. Valdemar ressaltou que não fez o convite.

Bolsonaristas de todos os lados, incluindo os que estão lá fora trabalhando contra o Brasil, festejaram com empolgação a posição de Fux em favor dos golpistas. O voto foi um desastre, recheado de ilações e distorções diante do conjunto de provas. Mas como estamos num Estado de Direito, um juiz tem independência para votar sem medo.

Suspeito que Fux não tem nada a ver com as palavras do ínclito Valdemar. A postura do ministro na sessão desta quinta-feira foi de respeito ao resultado do julgamento, sem qualquer gesto de quebra da liturgia que se espera de um juiz. Ao votar na definição da dosimetria das penas, foi igualmente correto ao reafirmar a divergência.

Tudo isso fica sob o manto da desconfiança depois das palavras extravagantes do presidente do PL, a facção partidária da qual Jair Bolsonaro é filiado. Não se deve politizar um tribunal, dizia Fux ao defender a suposta tecnicidade de seu voto. Como um juiz que repele o uso político da Justiça vira candidato ao Senado depois de um voto?

É claro que a repercussão política é decorrência automática de decisões que envolvem detentores de mandato eletivo. E é algo inevitável. Qualquer um pode se manifestar do jeito que bem entender na defesa de aliados alcançados por decisão judicial. É o que estamos vendo, claro, em torno do caso Bolsonaro. Não há o que se possa fazer.

Agora, sair de julgamento inédito na história do país diretamente para uma campanha eleitoral como candidato, aí é um exotismo nada republicano. Fux foi arrastado ao pântano da politicagem por Valdemar, esse gigante da vida pública brasileira.

Vamos ver se era bravata de golpista – ou se o magistrado piscou para a desonra.