Um relatório técnico-científico inédito, apresentado nesta sexta-feira (8) durante audiência pública no auditório do Cesmac, em Maceió, revelou que o solo nas áreas afetadas pela mineração da Braskem apresenta sinais de deslocamento desde, pelo menos, 2004 — muito antes do colapso registrado oficialmente em 2018. 

A pesquisa reforça que a movimentação do terreno continua ativa e demanda medidas urgentes de revisão no atual mapa de criticidade da capital alagoana.

Coordenado pelo professor Marcos Eduardo Hartwig, do Departamento de Geologia da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), o estudo foi conduzido por uma equipe multidisciplinar composta por pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), da University of Leipzig (Alemanha), da Leibniz University Hannover e da própria Ufes, a pedido do Núcleo de Proteção Coletiva da Defensoria Pública de Alagoas.

Segundo Hartwig, a análise de imagens de satélite revelou que deformações significativas no solo começaram a ser detectadas há mais de 20 anos. No entanto, essas movimentações iniciais não constam nos mapas oficiais, que consideram apenas o período entre 2019 e 2024. 

“Os deslocamentos, na verdade, se iniciaram, pelo menos, desde 2004. Então quem ficou para trás não está na informação, e isso explica por que algumas áreas não aparecem com cores mais avermelhadas, que indicam deformações mais elevadas”, explicou o geólogo.

Um dos pontos que mais preocupam os especialistas é a Estação de Tratamento de Água Cardoso, localizada entre a barragem do Catolé e o bairro do Bebedouro. A estrutura apresenta fissuras e vazamentos mesmo após obras de reforço, com registros de deslocamentos verticais e horizontais considerados anormais. Fissurômetros instalados no local comprovaram a progressão das trincas, o que compromete a segurança do imóvel.

Outro dado alarmante é o comportamento do solo nos Flexais, onde os deslocamentos horizontais alcançam 10 milímetros por ano — o dobro do limite máximo estabelecido no atual mapa de risco, que é de 5 mm/ano.

O estudo recomenda a imediata revisão do mapa de criticidade, a ampliação do monitoramento em tempo real e a criação de um “mapa de nível de danos” voltado às áreas periféricas, que muitas vezes ficam à margem das estratégias de mitigação.

A audiência pública contou com a presença de lideranças comunitárias, especialistas, representantes da sociedade civil e da Defensoria Pública, que enxerga no relatório uma ferramenta fundamental para pressionar o poder público. 

O defensor Ricardo Melro afirmou que o documento será entregue à Defesa Civil de Maceió e ao prefeito João Henrique Caldas (PL). Caso o diálogo institucional não avance, a Defensoria pretende acionar o Judiciário para garantir medidas efetivas de proteção às comunidades atingidas.

 

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*Estagiária sob supervisão da editoria