É tempo de fogueira, forró e milho assado. Devo ter ouvido esse slogan em algum telejornal, nos canais de TV que vão passando entre uma tela e outra. Paraibano, o deputado Hugo Motta, presidente da Câmara Federal, viralizou por causa da imagem acima. Numa “festa típica de São João”, ele encarou o desafio de virar um gole de uísque diretamente na boca da garrafa. Com a tranquilidade dos profissionais, conseguiu.

A gravação foi bater nas redes sociais, é claro, pela ação de um influenciador. No vídeo de 38 segundos, um interlocutor celebra o feito do deputado e nos dá a seguinte informação: “O homem tá feliz demais”. A performance de Motta me lembrou da expressão do então desembargador Antônio Sapucaia – o “gogozinho” dos magistrados.

Legítimo herdeiro das eternas oligarquias do Nordeste, Motta decolou do anonimato para o topo da República. Candidato, era aquele que não é nem contra, nem a favor, muito pelo contrário. Para contemplar todos os polos de força no Congresso, prometeu tudo para todos os lados. Com um poder que jamais teve, o homem agora é outro.

A caminho de completar seis meses no comando da Câmara, revela-se um aparente novo perfil. O deputado começou o mandato cuidadoso, sem gestos agressivos – como costumava fazer seu antecessor. Nas últimas semanas, no entanto, houve uma inflexão. O pacato Motta sacou a metralhadora e mandou bala – pra cima do governo.

Dizem que tem influência tóxica do ex-presidente Arthur Lira. Pode ser. Mas essa explicação não dá conta da profunda mudança do “jovem” parlamentar. Ele parece ter juntado a avaliação negativa do governo, o peso da direita no meio dos debates e aqueles trocados das emendas, para decidir mudar de rumo. É a política, ora!

É dado como certo que as vitórias de Motta na Câmara e de Davi Alcolumbre no Senado passaram por acordo com Lula. Uma jogada previsível do governo para costurar algum apoio na tramitação de projetos. Mas, até pelos acertos com a oposição, a dupla nunca agiu como o Planalto esperava. Aos solavancos, a relação segue tumultuada.

Este ano, o “gogozinho” das emendas parlamentares chega perto dos 60 bilhões de reais. E este é apenas um dos fatores de peso nas negociações sobre projetos como a isenção de IR para quem recebe até 5 mil reais. Tudo trava no Congresso Nacional. O clima dá uma acalmada agora, nas festas de São João. É praticamente mais um recesso.