Pilar essencial do regime democrático, o Poder Legislativo brasileiro chafurda no lamaçal. É um assombro o histórico dos últimos anos. Do orçamento secreto à criminalização da mulher em casos de estupro, deputados e senadores se empenham no derretimento da própria reputação. Em fevereiro deste ano, pesquisa Atlas Intel para a CNN Brasil revelou que 82% dos brasileiros têm confiança zero no Congresso Nacional.
Os números do levantamento mostram o tamanho do descalabro. O resultado da pesquisa também sinaliza que a opinião pública percebe as jogadas espúrias que predominam no dia a dia de Suas Excelências. É muita presepada, nas duas casas do Legislativo, contra os interesses da sociedade. Não dá mesmo para confiar.
O último lance que expôs a depravação do Congresso se deu na Comissão de Infraestrutura do Senado. Como se sabe, esta semana, senadores ofenderam e tentaram intimidar a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. Os dois mais desavergonhados foram Marcos Rogério e Plínio Valério. Marina reagiu e fulminou a dupla cafajeste.
Rogério é o mesmo que na CPI da Covid agiu para blindar o governo criminoso de Jair Bolsonaro. Valério já disse ter vontade de enforcar Marina Silva. Eles fazem parte da bancada do agronegócio. A depender dessa ralé da política, a motosserra seria liberada para acabar com essa história de proteção a florestas. O que interessa é a grana.
Certo, o Congresso nunca foi o paraíso, estamos de acordo. Mas, desde Arthur Lira, a coisa degringolou de vez. Em seus dois mandatos como presidente da Câmara, a indecência virou padrão. Projetos de lei e manobras regimentais aliviam para corruptos, ameaçam o meio ambiente, sabotam direitos sociais e rapinam os cofres públicos.
O “jovem” Hugo Motta, sucessor de Lira, dá pistas sólidas de que vai seguir à risca os princípios do mestre. O padrão é rigorosamente o mesmo – para o nosso lado, tudo, e o país que se dane. Embora atirem em todas as direções, as ações de gangsterismo convergem para a meta principal, que é resumida na farra das emendas.
Seria cansativo listar todas as traquinagens patrocinadas na Câmara e no Senado. E nem estou levando em conta aqui a grotesca degradação ideológica resumida em caricaturas como o senador Eduardo Girão e o deputado Marcel van Hattem. Nunca a palavra escória se encaixou de modo tão intenso quanto agora no parlamento do Brasil.
O país vive um parlamentarismo real num presidencialismo emparedado pelo Congresso. Estão aí Motta e Davi Alcolumbre, presidente do Senado, falando grosso e ameaçando, de novo, sabotar projetos do governo. Arthur Lira faz o mesmo como relator do projeto que isenta de IR quem ganha até 5 mil reais. Chantageiam o governo a céu aberto.
No próximo ano, lá vamos nós eleger as figuras do nosso Poder Legislativo. Pela grande imprensa, entendidos no assunto decretam que o nível vai piorar nas urnas de 2026. Não duvido. Do jeito que vai o barco, patifes de todo tipo já preparam o bote.