O aumento de cerca de 180% no custo do cacau nos últimos dois anos, impulsionado principalmente pela quebra de safra nos grandes produtores africanos, tem afetado diretamente o mercado de chocolates, especialmente para a produção de ovos de Páscoa. A alta, que se concentrou no segundo semestre de 2024, tem gerado incertezas no setor, com impactos significativos na produção permanente de produtos derivados do cacau.

O maior produtor mundial de cacau, a Costa do Marfim, ainda enfrenta dificuldades com ondas de calor e seca, o que prejudica o desenvolvimento das plantas e resulta em uma menor oferta de frutos. Por outro lado, Gana, o segundo maior produtor, apresenta uma tendência de recuperação, o que pode equilibrar a oferta no futuro.

No Brasil, o setor cacaueiro segue uma trajetória de recuperação, com previsão de aumento na safra, especialmente em áreas não tradicionais de cultivo, como o cerrado baiano. O país é atualmente o sexto maior produtor mundial de cacau, com destaque para os estados do Pará e da Bahia, que representam mais de 90% da produção nacional.

No entanto, a volatilidade no mercado e a incerteza quanto aos preços dos produtos, desde as amêndoas de cacau até os derivados, continuam a afetar toda a cadeia produtiva. As indústrias de chocolate, por sua vez, buscam se adaptar à alta nos custos, com a diversificação do portfólio e a produção de produtos menores, mais acessíveis.

 

Retração na produção e aumento de preços

De acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Cacau, Amendoim, Balas e Derivados (Abicad), a produção de ovos de Páscoa em 2025 sofrerá uma retração de cerca de 20%, comparada ao ano anterior. Apesar disso, a contratação de trabalhadores temporários aumentou em 26%, com expectativa de que 20% sejam efetivados.

A Associação Brasileira de Supermercados (Abras) informou que os preços dos ovos de chocolate e produtos relacionados, como bombons e miniovos, subiram em média 14%, enquanto as colombas pascais tiveram um aumento de 5%. Para lidar com a alta nos custos, o setor aposta em uma maior variedade de produtos e em alternativas mais acessíveis ao consumidor.

 

Avanços tecnológicos no setor cacaueiro

No campo da tecnologia, o setor de cacau tem avançado com técnicas que aumentam a produtividade, tanto nas grandes quanto nas pequenas propriedades. Inovações em processos como a quebra, fermentação e armazenamento do cacau têm sido essenciais para melhorar a qualidade do produto final, permitindo melhor posicionamento no mercado.

Esses avanços também se refletem na política externa brasileira. Recentemente, a Agência de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) participou de uma missão à África para fortalecer a cooperação tecnológica com países produtores como Costa do Marfim e Gana. A missão teve como objetivo aumentar os ganhos para os produtores locais e expandir as oportunidades de exportação para o Brasil.

Apesar da alta nos preços, o setor cacaueiro brasileiro e mundial segue se adaptando, buscando soluções que equilibram a oferta e a demanda, ao mesmo tempo que tentam minimizar os impactos nos consumidores e produtores de chocolate.

 

*Com Agência Brasil