Lula andou teorizando, nesta quinta-feira 6 de fevereiro, sobre maneiras de combate à inflação. Foi uma fala de improviso durante entrevista para emissoras de rádio baianas. Como sempre ocorre nessas ocasiões, o risco de uma declaração descabida é muito alto. Não deu outra. Com uma cara de irritação, o presidente resolveu dar a receita para o povo escapar dos alimentos caros. Basta comprar o produto mais barato.
Segundos após a veiculação, a filosofia de Lula sobre custo de vida havia tomado as redes sociais. Se não viralizou geral, foi o assunto no universo do bolsonarismo e da ultradireita. Na grande imprensa, Dora Kramer foi a primeira a acusar Lula de “culpar o povo” pela inflação. Menos! A colunista da Folha não foi a única voz pela mídia a tratar a fala de Lula como atentado ao país. A evidência de um imutável viés ideológico.
Na mesma entrevista, Lula falou sobre o desabamento do teto numa igreja de Salvador – o que resultou na morte de uma turista. Assim como no papel de analista de aspectos inflacionários, o Lula expert em patrimônio histórico não teria muita chance num processo de seleção de pessoal. Quando se empolga diante de câmeras e microfones, o presidente deixa assessores e marketeiros com a pressão à beira do colapso.
O jornalismo declaratório é uma das maiores encrencas na história da imprensa. Mas não é de hoje, não. Desde que os primeiros jornais surgiram no mundo, uma “declaração bombástica” tem tudo para subir às manchetes em letras garrafais. Nesses casos, o mais comum é que todo o barulho seja extinto logo em seguida. Porque afinal outra novidade pede passagem, cavalgando mais uma “afirmação polêmica”. A engrenagem não para.
A nova entrevista de Lula tem a ver com esses tópicos da teoria da comunicação. Por aí. Não era nada disso o que Sidônio Palmeira esperava ao assumir o comando da Secom. O petista falante em entrevistas quase todo dia é uma ideia do ministro que chegou para dar uma guinada na estratégia de comunicação do governo. Trabalho duro. Do lado da imprensa, é preciso moderação – na reportagem e no texto opinativo.