O senador Jaques Wagner negou um aperto de mão ao presidente do Senado, Davi Alcolumbre. Reportagem no Jornal da Globo chamou atenção para a cena na qual o petista baiano se esquiva do colega após um diálogo tenso entre os dois. Eles estavam nos assentos da mesa diretora, no plenário da Casa, momentos antes da votação que derrubaria o decreto do governo sobre aumento nas tarifas do IOF. Tá feia a coisa.

A atitude de Jaques Wagner é ilustração rigorosa do tamanho da crise. Ele tentava fazer o presidente do Senado voltar atrás e adiar a votação. Àquela altura, noite de quarta-feira 25 de junho, estava claro que essa hipótese não tinha como prosperar. Alcolumbre estava fechado com Hugo Motta, presidente da Câmara, para liquidar a parada.

No fim da conversa, ali aos 45 do segundo tempo, Wagner e Alcolumbre se levantam e o amapaense se move para o cumprimento. Mas o baiano dá um drible, sendo cuidadoso para evitar um sinal muito claro de agressividade. É o que parece pelas imagens. Alcolumbre percebe o gesto e recolhe o braço que ia na direção do colega.

O engajamento do Senado na investida contra o governo é uma ação coordenada com a Câmara. Petistas, dentro e fora da administração, alardeiam a grande traição da dupla que chegou ao poder com o apoio do Planalto. Praticamente sem disfarce, os cabeças do Poder Legislativo declaram guerra a Lula – e exigem mundos e fundos.

Na tarde desta sexta-feira 27, sai a notícia de que Lula mandou a AGU preparar recurso ao STF, para derrubar a decisão do Congresso. É o caminho do conflito. De quebra, arrasta o Supremo para novo embate com o parlamento. Ou seja, tudo pode piorar. Agora, com ou sem recurso ao STF, o racha entre Executivo e Legislativo estava posto.

Nas últimas semanas, vimos uma inflexão na postura de Motta e Alcolumbre. Quase que de repente, deram uma guinada não à esquerda ou à direita, mas ao extremismo reacionário. Está do jeito que a tropa bolsonarista gosta. O governo estaria “perdido”.

Esse é o diagnóstico dos adversários, fortalecido por 99% dos colunistas da velha imprensa. E não estou dizendo que estejam errados ou “a serviço das elites”. É apenas uma constatação. Lula e o governo precisam decidir sobre estratégias de reação.

Pode haver muita coisa a ser feita por duas vias opostas: fazer concessões ou apostar no embate. O dilema fica mais delicado quando os inimigos estão ali, bem ao lado, a uma curta caminhada entre um prédio e outro. Vizinhança é sempre paradoxal.